A liturgia das horas (CIC § 1174 a 1178)

O Mistério de Cristo, sua Encarnação e sua Páscoa, que celebramos na Eucaristia, especialmente na assembléia dominical, penetra e transfigura o tempo de cada dia pela celebração da Liturgia das Horas, “o Ofício Divino. [Cf. SC IV ] ” Esta celebração, em fidelidade às recomendações apostólicas de “orar sem cessar [Cf. 1 Ts 5,15; Ef 6,18] ”, “está constituída de tal modo que todo o curso do dia e da noite seja consagrado pelo louvor de Deus [SC 84] ” Ela constitui “a oração pública da Igreja [SC 98] ”, na qual os fiéis (clérigos, religiosos e leigos) exercem o sacerdócio régio dos batizados. Celebrada “segundo a forma aprovada” pela Igreja, a Liturgia das Horas “é verdadeiramente a voz da própria esposa que fala com o esposo, e é até a oração de Cristo, com seu corpo, ao Pai [SC 84] ”.

Terminado o nosso estudo da Liturgia, dispomo-nos agora a estudar a Liturgia das Horas ou o Ofício Divino, que é o grande sacramental existente em torno da Eucaristia e apto a santificar todos os momentos do dia cristão, particularmente o dia e a noite.

"O nosso tempo é a graça fundamental que Deus possa dar a alguém, pois é sempre uma oportunidade de conversão e de construção da vida eterna. No tempo, com ou sem saúde, com ou sem riqueza, o cristão pode caminhar para o Pai (cf. Rm 2,4s). Muitas pessoas, no fim da vida, gostariam de recomeçar ou de ter um pouco mais de tempo."

"O Ofício Divino, traduz a consciência que a Igreja tem, de que todos os instantes da história são santos, ou são o cenário no qual Cristo desenvolve a obra da Redenção; por conseguinte, devem ser pela Igreja consagrados na medida em que vão ocorrendo.". "Tendo Cristo estabelecido que é preciso orar em todo tempo e não desfalecer" (Lc 18,1).

"Como nos ensina o Catecismo, constituem a oração que a Igreja, a Esposa de Cristo, de modo especial, dizer ser 'sua oração' e que, com a Eucaristia os sacramentos e os sacramentais, integra o culto oficial da Igreja. Ela vem a ser um louvor perene, oferecido a Deus Pai por Cristo com sua Igreja, porque a todo momento do dia e da noite deve haver um grupo de cristão que esteja a rezá-la sobre a face da terra." (Curso de Liturgia por correspondência, Escola Mater Ecclesiae, pág. 137 e 141, Dom Estévão Bettencourt).

CIC § 1175

A Liturgia das Horas é destinada a tornar-se a oração de todo o povo de Deus. Nela, o próprio Cristo “continua a exercer sua função sacerdotal por meio de sua Igreja [SC 83] ”; cada um participa dela segundo seu lugar próprio na Igreja e segundo as circunstâncias de sua vida: os presbíteros, enquanto dedicados ao ministério da palavra [SC 86; 96; PO 5] ; os religiosos e as religiosas, pelo carisma de sua vida consagrada [Cf. SC 98] ; todos os fiéis, segundo suas possibilidades: “Os pastores de almas cuidarão que as horas principais, especialmente as vésperas, nos domingos e dias festivos mais solenes, sejam celebradas comunitariamente na Igreja. Recomenda-se que os próprios leigos recitem o Ofício divino, ou juntamente com os presbíteros, ou reunidos entre si, e até cada um individualmente [SC 100] ”.

A liturgia das horas é a oração da Igreja no decurso do dia. A oração pública e comum do povo de Deus é considerada com razão entre as principais funções da Igreja. Nos primórdios, já os batizados 'perseveravam no ensinamento dos apóstolos, na comunhão, na fração do pão e nas orações' (At 2,42). Várias vezes atestam os atos dos apóstolos que a comunidade cristã orava em comum.

"Em nossos dias, todos os fiéis são exortados a que rezem diariamente o Ofício Divino, ao menos em parte, de acordo com suas possibilidades pessoais. E, para que nunca venha a desfalecer essa voz oficial da Igreja junto a Deus."(Curso de Liturgia por correspondência, Escola Mater Ecclesiae, pág. 142, Dom Estévão Bettencourt).

Para refletir:

Amigo(a) ouvinte, ensina São Cipriano que: "Temos uma oração pública e comum; quando oramos, não é por um só, mas por todo o povo, porque não somos senão um."

Prezado(a) ouvinte, encontramos nossa alegria na Palavra de Deus, como a de quem encontra um imenso tesouro. Odiamos o mal e o detestamos; mas amamos a Sua lei, sete vezes ao dia publicamos Seus louvores, por causa da Sua justiça e de Seus juízos. Grande paz têm aqueles que amam a lei de Deus; não há para eles nada que os perturbe. Espero Senhor, o vosso auxílio, e cumpro os vossos mandamentos. Minha alma é fiel às vossas prescrições, e eu as amo com fervor. Guardo os vossos preceitos e as vossas ordens, porque ante vossos olhos está minha vida inteira. (Cf. Sl 118, 162 - 168).

CIC § 1176

Celebrar a Liturgia das Horas exige não somente que se harmonize a voz com o coração que reza, mas também “que se adquira um conhecimento litúrgico e bíblico mais rico, principalmente dos Salmos [SC 90] ”.

"A celebração consciente do Ofício Divino exige dos fiéis uma dupla preparação: remota e próxima... Remota, pois é necessário que o orante conheça os sentidos dos salmos e o modo de os recitar cristãmente; ora esta aprendizagem só pode ser benéfica, porque dilata e aprofunda a formação religiosa do cristão e habilita-o a mais amar a Deus e seus dons; é na proporção do conhecimento que costumamos amar."

"Antes de começar o Ofício Divino, é oportuno que o cristão se recolha e se compenetre de que vai orar com Cristo Sacerdote em nome de seus irmãos, missão esta grandiosa e exigente. Recomenda-se, antes de cada salmo, que o orante se conscientize do teor desse cântico e procure definir como o deverá recitar no contexto de oração em que se acha. Não se pode recitar um salmo com a esponteneidade ou o despreparo com que se lê um trecho de literatura moderna."

"Para que a oração litúrgica seja oração pessoal, e não apenas formalidade, requer-se que a mente do orante concorde com a sua voz. A voz profere a Palavra de Deus e da Igreja; por conseguinte, é padrão para o nosso pensar e sentir íntimos. Essa voz suscita a conversão interior, mais profunda configuração pessoal a Cristo e às suas grandes intenções na terra." (Curso de Liturgia por correspondência, Escola Mater Ecclesiae, pág. 147 e 148, Dom Estévão Bettencourt).

CIC § 1177

Os hinos e as ladainhas da Oração das Horas inserem a oração dos salmos no tempo da Igreja, exprimindo o simbolismo do momento do dia, do tempo litúrgico ou da festa celebrada. Além disso, a leitura da Palavra de Deus a cada hora (com os responsos ou os tropários que vêm depois dela) e, em certas horas, as leituras dos Padres da Igreja e dos mestres espirituais revelam mais profundamente o sentido do mistério celebrado, ajudam na compreensão dos salmos e preparam para a oração silenciosa. A lectio divina, em que a Palavra de Deus é lida e meditada para tornar-se oração, está assim enraizada na celebração litúrgica.

"O Ofício Divino consta de Horas Canônicas (porque estão no cânon ou no padrão dos livros oficiais da Igreja). Cada Hora Canônica é um modêlo de oração, que compreende um hino, salmos e cânticos, leituras bíblicas, versículos e uma coleta final. O conteúdo dessse modelo é adaptado às sucessivas horas do dia e da noite, a fim de facilitar a elevação da mente do cristão a Deus em todos os momentos da sua vida."

"Temos também o Ofício das Leituras que tenciona propor ao povo de Deus um contato substancioso com a S. Escritura e com as mais belas páginas dos autores de espiritualidade antigos e modernos." (Curso de Liturgia por correspondência, Escola Mater Ecclesiae, pág. 143, Dom Estévão Bettencourt).

CIC § 1178

A Liturgia das Horas, que é como que um prolongamento da celebração eucarística, não exclui, mas requer de maneira complementar as diversas devoções do Povo de Deus, particularmente (principalmente) a adoração e o culto do Santíssimo Sacramento.

"Valorizando de tal maneira o Ofício Divino, a Igreja não tenciona depreciar as demais formas de oração, derivadas da ação do Espírito em comunidades ou nos indivíduos; ao contrário, recomenda-as, mas subordina-as, quanto à dignidade, à oração oficial."

Entre as demais formas de oração que aqui o Catecismo recomenda, estão os "piedosos exercícios do Santo Rosário (outubro), a Via Sacra, as devoções do mês de maio e de outubro (Nossa Senhora), junho (S. Coração de Jesus), as ladainhas, as procissões... São válidos alimentos para a piedade, mas nunca devem criar conflito com a S. Liturgia (ladainhas durante a Missa, terço durante a Hora das Vésperas...). (Curso de Liturgia por correspondência, Escola Mater Ecclesiae, pág. 141, Dom Estévão Bettencourt).

Para refletir:

Amigo(a) ouvinte, quando os fiéis se reúnem para a liturgia das horas estão diante de Deus não apenas em seu próprio nome, mas, em união com Cristo, representam todos os irmãos que não podem, não sabem ou não querem fazê-lo.

Louvemos o Senhor Deus porque ele é bom. Cantemos ao Nosso Deus porque é suave: Ele é digno de louvor, Ele o merece! Entoemos, cantemos a Deus ação de graças, Toquemos para o Senhor com nossas harpas! Ele reveste todo o céu com densas nuvens, e a chuva para a terra Ele prepara; Faz crescer a verde relva sobre os montes e as plantas que são úteis para o homem; Ele dá aos animais seu alimento e ao corvo e a seus filhotes que o invocam. Não é a força do cavalo que lhe agrada, nem se deleita com os músculos do homem; Mas agradam ao Senhor os que o respeitam, os que confiam esperando em seu amor! ( Cf. Sl 146,1.7-11).

Diácono Antonio Carlos
Comunidade Católica Nova Aliança