NOVELAS E ENIGMAS


Fico impressionado quando, na seção de livraria de um conhecido hipermercado de nossa vizinhança, encontro expostos, de uma forma muito destacada, vários livros cujos títulos têm um primeiro denominador comum: apresentam-se sob o gênero de novelas, porém afirmando, ao mesmo tempo, que investigaram e trouxeram à luz enigmas escondidos pela Igreja Católica.

Eis aqui a primeira fraude que se esconde neste gênero de literatura: se nos dispusermos a rebater com dados científicos as afirmações anti-católicas contidas nestas obras, então, rapidamente, nos responderão dizendo que "não temos que ficar nervosos, porque já se nos avisou que se tratava de uma novela". Quando, ao contrário, recordamos aos consumidores desta literatura que se trata de meras novelas, então, nos enganam dizendo que "estão baseadas em estudos históricos". Uma trapaça absurda na qual muitíssimos leitores se encontram enganados!

A respeito do grau de confiabilidade científica destes livros, basta assinalar um significativo detalhe: a maioria é publicada por autores que se apresentam com o currículo de "escritor e investigador".

O que isto quer dizer? O que significa ser "escritor e investigador"? Falando às claras, quer dizer que esses autores se lançaram a escrever em torno desses temas, sem a menor especialização necessária: não cursaram estudos de teologia dogmática, nem filosofia, nem paleografia, nem arqueologia, nem línguas semitas, nem Sagrada Escritura, nem Patrologia, nem astrologia, nem história, nem... . Escrever um livro que pretende adentrar-se em todas essas matérias, sem dar conta de nenhuma delas com precisão, pode ter duas razões de serem distintas: ou é ignorância atrevida que sabe descobrir e explorar o filão de ouro, ou é o desejo deliberado de dar uma interpretação falsa ou errônea e confundir os crentes.

Além da denúncia da falta de rigor científico, é também necessário dar-se conta de que a proliferação desta literatura esotérica corresponde ao desejo de todo ser humano de adentrar-se no misterioso e no espiritual. É bem certo que fazê-lo desta forma traz consigo o inevitável perigo de adaptar e deformar o mistério à conveniência e ideologia dominante.

Este tipo de novelas pretende encher o espaço da religiosidade natural do ser humano, porém desligando-o de todo compromisso moral, pessoal ou social.

Sempre virá algum libertador como "escritor e investigador"que nos anuncie que encontrou algum manuscrito secreto guardado pelos Templários, graças ao qual podemos abrir os olhos e descobrir que nossos antigos compromissos morais e eclesiais eram uma mera invenção de algum mau Cardeal!

É a perfeita "religião light": sacia-se a curiosidade pelo transcendente, libertando-nos ao mesmo tempo de qualquer compromisso de vida. O fenômeno seria cômico, se não fosse porque conhecemos mais de um crente colocar em dúvida suas convicções de fé. Lembro que, recentemente, uma pessoa consumidora habitual deste tipo de literatura chegou perto de mim, perguntando-me em voz baixa e com tom misterioso: "Vocês sabem coisas que não podem contar! É verdade?" Não fiz por menos e lhe perguntei qual novela estava lendo ultimamente.

Por tudo isto, volto a formular uma pergunta que já fiz: Por que essas novelas esotéricas anti-religiosas se referem sempre à Igreja Católica? Porque acontece com a literatura o mesmo que com as produções cinematográficas? Por que há tanta literatura e crítica cinematográfica a respeito do catolicismo e não ocorre o mesmo com o judaísmo, o islamismo, as religiões orientais, ou as demais Igrejas cristãs?

Sem entrar em respostas demasiado simplistas, me limito a recolher algumas afirmações de Vittorio Messori, que, numa entrevista concedida ao diário italiano IL MESSAGGERO, denunciava que o anti-catolicismo substituiu o anti-semitismo. Com ironia incisiva, o autor italiano recordava que "os católicos, junto com os fumantes e os caçadores, são as três categorias que não estão protegidas pelo politicamente correto e que, portanto, pode-se falar mal delas livremente".

Sem dúvida, Messori não faz uma leitura pessimista da realidade atual, mas considera em sua análise como "providencial o anti-catolicismo da cultura ocidental e do Islã". É um fato que sempre necessitamos da perseguição para redescobrir a própria identidade. Somos conscientes de que se reduzíssemos a mensagem católica a um blá-blá-blá bondoso sobre o pacifismo, a ecologia, a tolerância e alguns outros valores de amplo e vago consenso, então até poderíamos chegar a sermos simpáticos para a cultura atual. Isso sim:

TÃO SIMPÁTICOS COMO INSIGNIFICANTES!