Liturgia de 16 de fevereiro de 2024

SEXTA-FEIRA DEPOIS DAS CINZAS

 (roxo - ofício do dia)

 

Antífona da entrada

- Escutai-me, Senhor Deus, tende piedade! Sede, Senhor, meu abrigo protetor!

(Sl 29,11).

 

Coleta

- Nós vos pedimos, Senhor, acompanhai com vossa bondade a penitência que iniciamos, para que possamos realizar, com sinceridade de coração, o que corporalmente praticamos. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus e conosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos.

 

1ª Leitura: Isaías 58,1-9a

- Leitura do livro do profeta Isaías - Assim fala o Senhor Deus:1“Grita forte, sem cessar, levanta a voz como trombeta e denuncia os crimes do meu povo e os pecados da casa de Jacó. 2Buscam-me cada dia e desejam conhecer meus propósitos, como gente que pratica a justiça e não abandonou a lei de Deus. Exigem de mim julgamentos justos e querem estar na proximidade de Deus: 3“Por que não te regozijaste, quando jejuávamos, e o ignorastes, quando nos humilhávamos?” — É porque no dia do vosso jejum tratais de negócios e oprimis os vossos empregados. 4É porque, ao mesmo tempo que jejuais, fazeis litígios e brigas e agressões impiedosas. Não façais jejum com esse espírito, se quereis que vosso pedido seja ouvido no céu. 5Acaso é esse jejum que aprecio, o dia em que uma pessoa se mortifica? Trata-se talvez de curvar a cabeça como junco, e de deitar-se em saco e sobre cinza? Acaso chamas a isso jejum, dia grato ao Senhor?  6Acaso o jejum que prefiro não é outro: quebrar as cadeias injustas, desligar as amarras do jugo, tornar livres os que estão detidos, enfim, romper todo tipo de sujeição? 7Não é repartir o pão com o faminto, acolher em casa os pobres e peregrinos? Quando encontrares um nu, cobre-o, e não desprezes a tua carne. 8Então, brilhará tua luz como a aurora e tua saúde há de recuperar-se mais depressa; à frente caminhará tua justiça e a glória do Senhor te seguirá. 9aEntão invocarás o Senhor e ele te atenderá, pedirás socorro, e ele dirá: “Eis-me aqui”.

 

- Palavra do Senhor.

- Graças a Deus.

 

Salmo Responsorial: Sl 51,3-4.5-6a.18-19 (R: 19b)

- Ó Senhor, não desprezeis um coração arrependido!

R: Ó Senhor, não desprezeis um coração arrependido!

 

- Tende piedade ó meu Deus, misericórdia! Na imensidão de vosso amor, purificai-me! Lavai-me todo inteiro do pecado, e apagai completamente a minha culpa!

R: Ó Senhor, não desprezeis um coração arrependido!

 

- Eu reconheço toda a minha iniquidade, o meu pecado está sempre à minha frente. Foi contra vós, só contra vós, que eu pequei, e pratiquei o que é mau aos vossos olhos!

R: Ó Senhor, não desprezeis um coração arrependido!

 

- Pois não são de vosso agrado os sacrifícios, e, se oferto um holocausto, o rejeitais. Meu sacrifício é minha alma penitente, não desprezeis um coração arrependido!

R: Ó Senhor, não desprezeis um coração arrependido!

 

Evangelho de Jesus Cristo, segundo Mateus: Mt 9,14-15

Salve Cristo, luz da vida, companheiro na partilha!

Salve Cristo, luz da vida, companheiro na partilha!

 

- Buscai o bem, não o mal, pois assim vivereis; então o Senhor, nosso Deus, convosco estará!

Salve Cristo, luz da vida, companheiro na partilha!

 

- O Senhor esteja convosco.

- Ele está no meio de nós.

 

- Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo † segundo Mateus.

- Glória a vós, Senhor!

 

 - Naquele tempo, 14os discípulos de João aproximaram-se de Jesus e perguntaram: “Por que razão nós e os fariseus praticamos jejuns, mas os teus discípulos não?” 15Disse-lhes Jesus: “Por acaso, os amigos do noivo podem estar de luto enquanto o noivo está com eles? Dias virão em que O Esposo lhes será tirado do meio deles. Então, sim, eles jejuarão”.

 

- Palavra da salvação.

- Glória a vós, Senhor!

  

 

Liturgia comentada

Um e outro se conservam... (Mt 9,14-15)

Nos meios religiosos, sempre existiram os iconoclastas. Aqueles cuja visão religiosa se inclina antes a destruir do que a construir. Aliás, logo antes de escrever esta reflexão, vi em uma rede social a foto de um frei, isto é, um religioso católico, queimando os documentos do Concílio Vaticano II, considerados como heréticos. E poderíamos lamentar os tesouros de arte cristã que foram destruídos pela heresia iconoclasta (séculos VIII/IX) no Oriente, a partir de uma leitura equivocada da Sagrada Escritura.

 

Ora, neste Evangelho Jesus dá um conselho “conservador”: não se trata de agir destrutivamente, forçando a natureza das pessoas. No corpo da Igreja existem odres novos (renovados pelo Espírito Santo) e odres velhos (fiéis acostumados a velhos ritos e antigas tradições). Deixo de lado, intencionalmente, toda avaliação sobre tais tradições, para me concentrar no essencial: nem todo mundo está apto, de momento, a acolher novidades, muitas das quais são vistas como verdadeiras “ameaças”, em condição de abalar e desestrutura anos e anos de prática religiosa.

 

Todos sabem que um odre é feito com a pele de um carneiro ou cabrito, virada do avesso, com alguns nós ou costuras no local das patas. Os odres eram usados no Oriente como recipientes para líquidos, uma espécie de cantil. Com o tempo, a pele endurece e perde sua natural elasticidade. Um odre novo, com pele nova, é capaz de resistir à produção de gases de um vinho novo que fermenta. Daí, o bom senso sugere exatamente aquilo que Jesus ensina: vinho novo em odres novos, ou teremos desastres.

 

É por isso que os pastores – como os párocos e os bispos – costumam ser cuidados e prudentes diante de novidades que trazem valores, mas podem causar estragos em ambientes e setores conservadores, dioceses históricas e Institutos multisseculares.

 

Seja como for, a mensagem do Evangelho não deve ser usada como dinamite, detonando estruturas antigas, ainda que elas estejam bem vacilantes, pois não falamos de pedras e tijolos, mas de pessoas. O autêntico Evangelho é construtivo, tem paciência, aceita demoras, sabe sorrir perante a simplicidade. Ou melhor, é tecido de amor...

 

Seria útil, igualmente, levar em conta a virtude da humildade. Por um lado, o odre velho deve reconhecer humildemente que está algo desidratado, um tanto encarquilhado, e lhe seria bom pedir a Deus uma renovação interior. Por outro lado, os portadores de vinho novo podem reler o passado da Igreja e ver quanto estrago foi feito por aqueles que tentaram mudar os corações com máquinas de terraplenagem...

 

Como diz Jesus, guardando o vinho novo em odres novos, ambos se conservam... E os veteranos sempre vão achar que o vinho velho é melhor...

 

Orai sem cessar:O teu amor é mais delicioso que o vinho...” (Ct 1,2)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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