Liturgia de 22 de março de 2024

SEXTA FEIRA DA IV SEMANA DA QUARESMA

(roxo, pref. da paixão I - ofício do dia)

 

Antífona

- Tende piedade, estou sofrendo. Libertai-me do inimigo e do opressor! Não serei confundido, Senhor, porque vos invoquei! (Sl 30,10.16.18).

 

Coleta

- Deus de misericórdia, que concedeis neste tempo à vossa Igreja imitar piedosamente a bem aventurada Virgem Maria na contemplação da paixão de Cristo, fazei que, pela intercessão da mesma Virgem, sigamos cada vez mais firmemente o vosso Filho unigênito e alcancemos um dia a plenitude da sua graça. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus e conosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos.

 

1ª Leitura: Jr 20,10-13

- Leitura do livro do profeta Jeremias: 10Eu ouvi as injúrias de tantos homens e os vi espalhando o medo em redor: “Denunciai-o, denunciemo-lo”. Todos os amigos observam minhas falhas: “Talvez ele cometa um engano e nós poderemos apanhá-lo e desforrar-nos dele”. 11Mas o Senhor está ao meu lado, como forte guerreiro; por isso, os que me perseguem cairão vencidos. Por não terem tido êxito, eles se cobrirão de vergonha. Eterna infâmia, que nunca se apaga! 12Ó Senhor dos exércitos, que provas o homem justo e vês os sentimentos do coração, rogo-te me faças ver tua vingança sobre eles; pois eu te declarei a minha causa. 13Cantai ao Senhor, louvai ao Senhor, pois ele salvou a vida de um pobre homem das mãos dos maus.


- Palavra do Senhor.

- Graças a Deus.

 

Salmo Responsorial: Sl 18,2-3a.3b-4.5-6.7 (R: 7)

 

- Ao Senhor eu invoquei na minha angústia, e ele escutou a minha voz.
R: Ao Senhor eu invoquei na minha angústia, e ele escutou a minha voz.


- Eu vos amo, ó Senhor! Sois minha força, minha rocha, meu refúgio e Salvador!

R: Ao Senhor eu invoquei na minha angústia, e ele escutou a minha voz.


- Meu Deus, sois o rochedo que me abriga, minha força e poderosa salvação, sois meu escudo e proteção: em vós espero! Invocarei o meu Senhor: a ele a glória! e dos meus perseguidores serei salvo!

R: Ao Senhor eu invoquei na minha angústia, e ele escutou a minha voz.


- Ondas da morte me envolveram totalmente, e as torrentes da maldade me aterraram; os laços do abismo me amarraram e a própria morte me prendeu em suas redes!

R: Ao Senhor eu invoquei na minha angústia, e ele escutou a minha voz.


- Ao Senhor eu invoquei na minha angústia e elevei o meu clamor para meu Deus; de seu Templo ele escutou a minha voz, e chegou a seus ouvidos o meu grito!

R: Ao Senhor eu invoquei na minha angústia, e ele escutou a minha voz.

 

Evangelho de Jesus Cristo, segundo João: Jo 10,31-42

 

Glória a Cristo, Palavra eterna do Pai que é amor!

Glória a Cristo, Palavra eterna do Pai que é amor!

 

- Senhor, tuas palavras são espírito, são vida; só tu tens palavra de vida eterna! (Jo 6,63.68)

Glória a Cristo, Palavra eterna do Pai que é amor!

 

- O Senhor esteja convosco.

- Ele está no meio de nós.

 

- Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo † segundo João

- Glória a vós, Senhor!  

 

- Naquele tempo, 31os judeus pegaram pedras para apedrejar Jesus. 32E ele lhes disse: “Por ordem do Pai, mostrei-vos muitas obras boas. Por qual delas me quereis apedrejar?” 33Os judeus responderam: “Não queremos te apedrejar por causa das obras boas, mas por causa de blasfêmia, porque sendo apenas um homem, tu te fazes Deus!” 34Jesus disse: “Acaso não está escrito na vossa Lei: ‘Eu disse: vós sois deuses’35Ora, ninguém pode anular a Escritura: se a Lei chama deuses as pessoas às quais se dirigiu a palavra de Deus, 36por que então me acusais de blasfêmia, quando eu digo que sou Filho de Deus, eu a quem o Pai consagrou e enviou ao mundo? 37Se não faço as obras do meu Pai, não acrediteis em mim. 38Mas, se eu as faço, mesmo que não queirais acreditar em mim, acreditai nas minhas obras, para que saibais e reconheçais que o Pai está em mim e eu no Pai”. 39Outra vez procuravam prender Jesus, mas ele escapou das mãos deles. 40Jesus passou para o outro lado do Jordão, e foi para o lugar onde, antes, João tinha batizado. E permaneceu ali. 41Muitos foram ter com ele, e diziam: “João não realizou nenhum sinal, mas tudo o que ele disse a respeito deste homem, é verdade”. 42E muitos, ali, acreditaram nele.

 

- Palavra da salvação.

- Glória a vós, Senhor!

 

 

 

Liturgia comentada

Vós sois deuses... (Jo 10,31-42)

Os judeus manifestam a intenção de apedrejar Jesus de Nazaré sob a acusação de blasfêmia – crime castigado com a lapidação (cf. Lv 24,14). Esta reação de violência ocorre quando Jesus deixa entender que é o Filho de Deus, igualando-se ao Pai.

 

Sem se abalar, Jesus recorda a seus acusadores uma passagem do livro dos Salmos (81,6), onde o salmista afirma: “Vós sois deuses” – frase que Jesus aplica àqueles que são instruídos pela Palavra de Deus. Como pano de fundo, o fato de que toda a humanidade é vocacionada a uma profunda intimidade e comunhão com Deus, autêntico processo de progressiva divinização.

 

É curioso lembrar que o pecado original brota da pretensão de “ser como deuses” (Gn 3,5). Mal sabiam os primeiros pais, no amanhecer de sua a inocência, que era este o desígnio do Criador, e eles não precisavam usurpar aquilo que seria um presente, um dom da graça.

 

Contemplando o Natal e a encarnação do Verbo, Isabelle Rivière comenta o mesmo aspecto: “Esta esperança de viver para sempre, como Deus, de viver a própria vida de Deus, é legítima e boa, e mesmo louvável, pois o mesmo Deus em pessoa vem a realizá-la. O pequeno Menino Jesus nos traz outro esclarecimento, que é um novo alívio para nossa alma: afinal de contas, o homem não fez mal ao desejar tornar-se como Deus, pois fora para isso mesmo que Ele o tinha criado. Seu pecado não estava no desejo em si, que é o próprio desejo de Deus – nos dois sentidos da expressão: ao mesmo tempo o desejo que o homem tem de Deus, e o desejo que Deus tem do homem: ser desejado por ele – com o amor da criatura respondendo ao amor do Criador, ou seja, o amor perfeito. A falta de Adão – continua a autora – foi querer ter acesso a Deus fora de Deus, e antes da hora fixada por Deus.”

 

Os Padres da Igreja primitiva intuíram essa “intenção” divina, que era a divinização do humano. Meditando sobre a Eucaristia, quando Deus se faz pão para nos alimentar, São Cirilo de Jerusalém classifica o cristão que comunga como concorpóreo (sýssomos)e consanguíneo (sýnaimos) do Filho de Deus.

 

Infelizmente, aqui e ali, sobrevive uma insistência em contrapor o divino e o humano, como se nós fôssemos uns batráquios incapazes de chegar às estrelas. A crescente intimidade com Jesus deve nos divinizar. É um Jesus plenamente humano (carne e ossos, cansaço e suor, dores e lágrimas...) que nós devemos imitar. E isto é possível.

 

Em um livro admirável, todo entusiasmo, Jesus Urteaga diz: “Todos os homens podem atingir a perfeição. Não há ocupação humana em que não possamos nos santificar. Nem o teatro, nem o cinema, nem a arte, nem a imprensa, nem a advocacia, podem ser excluídos dos caminhos que levam à santidade”. (O valor divino do humano, p. 70).

 

Orai sem cessar: “Agora sois luz no Senhor...” (Ef 5,8)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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