L Liturgia

Liturgia de 30 de março de 2020

SEGUNDA FEIRA DA V SEMANA DA QUARESMA

(Roxo, pref. da paixão I, ofício do dia)

Antífona da entrada

 

- Tende piedade de mim, Senhor, pois me atormentaram; todos os dias me oprimem os agressores (Sl 55,2).

Oração do dia

 

- Ó Deus, que pela vossa graça inefável nos enriqueceis de todos os bens, concedei-nos passar da antiga à nova vida, preparando-nos assim para o reino da glória. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

1ª Leitura: Dn: 13,1-9.15-17.19-30.33-62

- Leitura da profecia de Daniel: Naqueles dias. 1na Babilônia vivia um homem chamado Joaquim. 2Estava casado com uma mulher chamada Susana, filha de Helcias, que era muito bonita e temente a Deus. 3Também os pais dela eram pessoas justas e tinham educado a filha de acordo com a lei de Moisés. 4Joaquim era muito rico e possuía um pomar junto à sua casa. Muitos judeus costumavam visitá-lo, pois era o mais respeitado de todos. 5Ora, naquele ano,
tinham sido nomeados juízes dois anciãos do povo, a respeito dos quais o Senhor havia dito: 'Da Babilônia brotou a maldade de anciãos-juízes, que passavam por condutores do povo.' 6Eles freqüentavam a casa de Joaquim,
e todos os que tinham alguma questão se dirigiam a eles. 7Ora, pelo meio-dia, quando o povo se dispersava, Susana costumava entrar e passear no pomar de seu marido. 8Os dois anciãos viam-na todos os dias entrar e passear, e acabaram por se apaixonar por ela. 9Ficaram desnorteados, a ponto de desviarem os olhos para não olharem para o céu, e se esqueceram dos seus justos julgamentos. 15Assim, enquanto os dois estavam à espera de uma ocasião favorável, certo dia, Susana entrou no pomar como de costume,
acompanhada apenas por duas empregadas. E sentiu vontade de tomar banho, por causa do calor. 16Não havia ali ninguém, exceto os dois velhos
que estavam escondidos, e a espreitavam. 17Então ela disse às empregadas:
'Por favor, ide buscar-me óleo e perfumes e trancai as portas do pomar, para que eu possa tomar banho'. 19Apenas as empregadas tinham saído, os dois velhos levantaram-se e correram para Susana, dizendo: 20'Olha, as portas do pomar estão trancadas e ninguém nos está vendo. Estamos apaixonados por ti:
concorda conosco e entrega-te a nós! 21Caso contrário, deporemos contra ti,
que um moço esteve aqui, e que foi por isso que mandaste embora as empregadas'. 22Gemeu Susana, dizendo: 'Estou cercada de todos os lados!
Se eu fizer isto, espera-me a morte; e, se não o fizer, também não escaparei das vossas mãos; 23mas é melhor para mim, não o fazendo, cair nas vossas mãos do que pecar diante do Senhor!' 24Então ela pôs-se a gritar em alta voz,
mas também os dois velhos gritaram contra ela. 25Um deles correu para as portas do pomar e as abriu. 26As pessoas da casa ouviram a gritaria no pomar
e precipitaram-se pela porta do fundo, para ver o que estava acontecendo,
27Quando os velhos apresentaram sua versão dos fatos, os empregados ficaram muito constrangidos, porque jamais se dissera coisa semelhante
a respeito de Susana. 28No dia seguinte, o povo veio reunir-se em casa de Joaquim, seu marido. Os dois anciãos vieram também, com a intenção criminosa de conseguir sua condenação à morte. Por isso, assim falaram ao povo reunido: 29'Mandai chamar Susana, filha de Helcias, mulher de Joaquim'!
E foram chamá-la. 30Ela compareceu em companhia dos pais, dos filhos e de todos os seus parentes. 33Os que estavam com ela e todos os que a viam, choravam. 34Os dois velhos levantaram-se no meio do povo e puseram as mãos sobre a cabeça de Susana. 35Ela, entre lágrimas, olhou para o céu,
pois seu coração tinha confiança no Senhor. 36Entretanto, os dois anciãos deram este depoimento: 'Enquanto estávamos passeando a sós no pomar,
esta mulher entrou com duas empregadas. Depois, fechou as portas do pomar
e mandou as servas embora. 37Então, veio ter com ela um moço que estava escondido, e com ela se deitou. 38Nós, que estávamos num canto do pomar,
vimos esta infâmia. Corremos para eles e os surpreendemos juntos. 39Quanto ao jovem, não conseguimos agarrá-lo, porque era mais forte do que nós
e, abrindo as portas, fugiu. 40A ela, porém, agarramos, e perguntamos quem era aquele moço. Ela, porém, não quis dizer. Disto nós somos testemunhas'.
41A assembleia acreditou neles, pois eram anciãos do povo e juízes. E condenaram Susana à morte. 42Susana, porém, chorando, disse em voz alta:
'Ó Deus eterno, que conheces as coisas escondidas e sabes tudo de antemão,
antes que aconteça! 43Tu sabes que é falso o testemunho que levantaram contra mim! Estou condenada a morrer, quando nada fiz do que estes maldosamente inventaram a meu respeito!' 44O Senhor escutou sua voz.
45Enquanto a levavam para a execução, Deus excitou o santo espírito de um adolescente, de nome Daniel. 46E ele clamou em alta voz: 'Sou inocente do sangue desta mulher!' 47Todo o povo então voltou-se para ele e perguntou:
'Que palavra é esta, que acabas de dizer?' 48De pé, no meio deles, Daniel respondeu: 'Sois tão insensatos, filhos de Israel? Sem julgamento e sem conhecimento da causa verdadeira, vós condenais uma filha de Israel?
49Voltai a repetir o julgamento, pois é falso o testemunho que levantaram contra ela!' 50Todo o povo voltou apressadamente, e outros anciãos disseram ao jovem: 'Senta-te no meio de nós e dá-nos o teu parecer, pois Deus te deu a honra da velhice.' 51Falou então Daniel: 'Mantende os dois separados, longe um do outro, e eu os julgarei.' 52Tendo sido separados, Daniel chamou um deles e lhe disse: 'Velho encarquilhado no mal! Agora aparecem os pecados
que estavas habituado a praticar. 53Fazias julgamentos injustos, condenando inocentes e absolvendo culpados, quando o Senhor ordena: 'Tu não farás morrer o inocente e o justo!' 54Pois bem, se é que viste, dize-me à sombra de que árvore os viste abraçados?' Ele respondeu: 'É sombra de uma aroeira.'
55Daniel replicou 'Mentiste com perfeição, contra a tua própria cabeça. Por isso o anjo de Deus, tendo recebido já a sentença divina, vai rachar-te pelo meio!'
56Mandando sair este, ordenou que trouxessem o outro: 'Raça de Canaã, e não de Judá, a beleza fascinou-te e a paixão perverteu o teu coração. 57Era assim que procedíeis com as filhas de Israel, e elas por medo sujeitavam-se a vós. Mas uma filha de Judá não se submeteu a essa iniquidade. 58Agora, pois, dize-me debaixo de que árvore os surpreendeste juntos?' Ele respondeu: 'Debaixo de uma azinheira.' 59Daniel retrucou: 'Também tu mentiste com perfeição, contra a tua própria cabeça. Por isso o anjo de Deus já está à espera, com a espada na mão, para cortar-te ao meio e para te exterminar!'  60Toda a assistência pôs-se a gritar com força, bendizendo a Deus, que salva os que nele esperam. 61E voltaram-se contra os dois velhos, pois Daniel os tinha convencido, por suas próprias palavras, de que eram falsas testemunhas. E, agindo segundo a lei de Moisés, fizeram com eles aquilo que haviam tramado perversamente contra o próximo. 62E assim os mataram, enquanto, naquele dia, era salva uma vida inocente.


- Palavra do Senhor.

- Graças a Deus.

Salmo Responsorial: Sl 23,1-3a.3b-4.5.6 (R: 4a)

- Mesmo que eu passe pelo vale tenebroso, nenhum mal eu temerei, estais comigo.
R: Mesmo que eu passe pelo vale tenebroso, nenhum mal eu temerei, estais comigo.


- O Senhor é o pastor que me conduz; não me falta coisa alguma. Pelos prados e campinas verdejantes ele me leva a descansar. Para as águas repousantes me encaminha, e restaura as minhas forças.

R: Mesmo que eu passe pelo vale tenebroso, nenhum mal eu temerei, estais comigo.


- Ele me guia no caminho mais seguro, pela honra do seu nome. Mesmo que eu passe pelo vale tenebroso, nenhum mal eu temerei. Estais comigo com bastão e com cajado, eles me dão a segurança!

R: Mesmo que eu passe pelo vale tenebroso, nenhum mal eu temerei, estais comigo.


- Preparais à minha frente uma mesa, bem à vista do meu inimigo, com óleo vós ungis minha cabeça, e o meu cálice transborda.

R: Mesmo que eu passe pelo vale tenebroso, nenhum mal eu temerei, estais comigo.


- Felicidade e todo bem hão de seguir-me, por toda a minha vida; e, na casa do Senhor, habitarei pelos tempos infinitos.

R: Mesmo que eu passe pelo vale tenebroso, nenhum mal eu temerei, estais comigo.

Evangelho de Jesus Cristo, segundo João: Jo 8,1-11

 

Glória a vós, Senhor Jesus, primogênito dentre os mortos.

Glória a vós, Senhor Jesus, primogênito dentre os mortos.

 

- Não quero a morte do pecador, diz o Senhor, mas que ele volte, se converta e tenha vida  (Ez 33,11).

Glória a vós, Senhor Jesus, primogênito dentre os mortos.

- O Senhor esteja convosco.

- Ele está no meio de nós.

 

- Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo † segundo João

- Glória a vós, Senhor!  

 

- Naquele tempo, 1Jesus foi para o monte das Oliveiras. 2De madrugada, voltou de novo ao Templo. Todo o povo se reuniu em volta dele. Sentando-se, começou a ensiná-los. 3Entretanto, os mestres da Lei e os fariseus trouxeram uma mulher surpreendida em adultério. Levando-a para o meio deles, 4disseram a Jesus: “Mestre, esta mulher foi surpreendida em flagrante adultério. 5Moisés na Lei mandou apedrejar tais mulheres. Que dizes tu?”
6Perguntavam isso para experimentar Jesus e para terem motivo de o acusar. Mas Jesus, inclinando-se, começou a escrever com o dedo no chão. 7Como persistissem em interrogá-lo, Jesus ergueu-se e disse: “Quem dentre vós não tiver pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra”. 8E tornando a inclinar-se, continuou a escrever no chão. 9E eles, ouvindo o que Jesus falou, foram saindo um a um, a começar pelos mais velhos; e Jesus ficou sozinho, com a mulher que estava lá, no meio, em pé. 10Então Jesus se levantou e disse: “Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?” 11Ela respondeu: “Ninguém, Senhor”. Então Jesus lhe disse: “Eu, também, não te condeno. Podes ir, e de agora em diante não peques mais”.

- Palavra da salvação.

- Glória a vós, Senhor!

 

 

 

 

Liturgia comentada

Ninguém te condenou? (Jo 8,1-11)

Apanhada em flagrante adultério, uma jovem noiva (se já fosse mulher casada, seria condenada à forca, conforme o Sifrei 361 dos rabinos) é arrastada aos pés de Jesus por um grupo de escribas e fariseus que pretendem puni-la com a lapidação, conforme previsto na lei mosaica. Era uma frágil pomba cercada de falcões sanguinários. Todos apontam para ela o dedo indicador da mão direita em um gesto de acusação... Ela deve pagar o pecado com a morte!

Na verdade, afirma João, tratava-se de um pretexto para deixar Jesus em má situação. Era como se dissessem: - “Vamos ver como sai dessa o tal rabi da Galileia que tanto fala em misericórdia... Se concorda com o apedrejamento, desmente tudo que já ensinou. Se se posiciona a favor da adúltera, podemos acusá-lo de rejeitar a Lei.” Assim, depois de citar os preceitos que mandavam apedrejar a infratora (cf. Lv 20,10; Dt 22,23), espremem Jesus contra a parede: - “E tu, que dizes?”

Mas eles mentiam, de certa forma, pois a Lei mandava aplicar a dura pena não somente contra a mulher, mas também contra o parceiro de adultério. E Jesus se cala, se inclina e começa a escrever com o mesmo dedo da mão direita na areia fina do pátio do Templo. Ali, era exatamente a Terra de Moriá, onde Isaac tinha sido poupado da morte (Gn 22). Não era lugar de condenação.

E o contraste é ainda mais agudo quando se leva em conta que a Lei invocada pelos acusadores havia sido gravada na pedra do Sinai, de modo indelével, e transmitida a Moisés nos ásperos tempos da Velha Aliança. Desta vez, já em clima da Nova e Eterna Aliança, é sobre a areia fina que Jesus escreve. Areia que um leve sopro de vento desmancha, a-pagando os crimes e os castigos. Areias de misericórdia...

Como os acusadores insistem, Jesus, ainda inclinado, manda que a primeira pedra seja atirada por alguém que esteja sem pecado. Depois de rápido exame de consciência, a começar pelos mais velhos, eles se vão retirando um a um, deixando a sós Jesus e a pecadora. O Mestre estende o dedo indicador para ela e pergunta: “Ninguém te condenou?” Ela murmura: “Ninguém...”

E só ela ouviu a sentença de Jesus: “Nem eu te condeno. Vai e não tornes a pecar!” Aquele que detesta o pecado sempre terá reservas de amor pelos pecadores, pois Deus é amor...

 

Orai sem cessar: “Meu Deus enviou seu anjo e fechou a boca dos leões!” (Dn 6,23)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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