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Liturgia de 08 de abril de 2020

QUARTA FEIRA - SEMANA SANTA

(Roxo, pref. da paixão II, ofício do dia)

Antífona da entrada

 

- Ao nome de Jesus todo joelho se dobre no céu, na terra e na mansão dos mortos, pois o Senhor se fez obediente até a morte e morte de cruz. E por isso Jesus Cristo é Senhor na glória de Deus Pai (Fl 2,10.8.11).

Oração do dia

 

- Ó Deus, que fizestes vosso Filho padecer o suplício da cruz para arrancar-nos à escravidão do pecado, concedei aos vossos servos e servas a graça da ressurreição. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

1ª Leitura: Is 50,4-9a

 

- Leitura do livro do profeta Isaías: 4O Senhor Deus deu-me língua adestrada, para que eu saiba dizer palavras de conforto à pessoa abatida; ele me desperta cada manhã e me excita o ouvido, para prestar atenção como um discípulo.
5O Senhor abriu-me os ouvidos; não lhe resisti nem voltei atrás. 6Ofereci as costas para me baterem e as faces para me arrancarem a barba: não desviei o rosto de bofetões e cusparadas. 7Mas o Senhor Deus é o meu Auxiliador, por isso não me deixei abater o ânimo, conservei o rosto impassível como pedra, porque sei que não sairei humilhado. 8A meu lado está quem me justifica; alguém me fará objeções? Vejamos. Quem é meu adversário? Aproxime-se. 9aSim, o Senhor Deus é meu Auxiliador; quem é que me vai condenar?


- Palavra do Senhor.

- Graças a Deus.

Salmo Responsorial: Sl 69, 8-10.21bcd-22.31.33-34 (R: 14cb)

 

- Respondei-me pelo vosso imenso amor, neste tempo favorável, Senhor Deus.
R: Respondei-me pelo vosso imenso amor, neste tempo favorável, Senhor Deus.


- Por vossa causa é que sofri tantos insultos, e o meu rosto se cobriu de confusão; eu me tornei como um estranho a meus irmãos, como estrangeiro para os filhos de minha mãe. Pois meu zelo e meu amor por vossa casa me devoram como fogo abrasador: e os insultos de infiéis que vos ultrajam recaíram todos eles sobre mim!

R: Respondei-me pelo vosso imenso amor, neste tempo favorável, Senhor Deus.


- O insulto me partiu o coração; Eu esperei que alguém, de mim tivesse pena; procurei quem me aliviasse e não achei! Deram-me fel como se fosse um alimento, em minha sede ofereceram-me vinagre!

R: Respondei-me pelo vosso imenso amor, neste tempo favorável, Senhor Deus.


- Cantando eu louvarei o vosso nome e agradecido exultarei de alegria! Humildes, vede isto e alegrai-vos: o vosso coração reviverá, se procurardes o Senhor continuamente! Pois nosso Deus atende à prece dos seus pobres, e não despreza o clamor de seus cativos.

R: Respondei-me pelo vosso imenso amor, neste tempo favorável, Senhor Deus.

Evangelho de Jesus Cristo, segundo Mateus: Mt 26,14-25

 

Salve, Cristo, luz da vida, companheiro na partilha!

Salve, Cristo, luz da vida, companheiro na partilha!

 

- Salve nosso rei, somente vós tendes compaixão dos nossos erros.

Salve, Cristo, luz da vida, companheiro na partilha!

- O Senhor esteja convosco.

- Ele está no meio de nós.

 

- Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo † segundo Mateus

- Glória a vós, Senhor!  

 

- Naquele tempo, 14um dos doze discípulos, chamado Judas Iscariotes, foi ter com os sumos sacerdotes 15e disse: “Que me dareis se vos entregar Jesus?” Combinaram, então, trinta moedas de prata. 16E daí em diante, Judas procurava uma oportunidade para entregar Jesus. 17No primeiro dia da festa dos Ázimos, os discípulos aproximaram-se de Jesus e perguntaram: “Onde queres que façamos os preparativos para comer a Páscoa?” 18Jesus respondeu: “Ide à cidade, procurai certo homem e dizei-lhe: ‘O Mestre manda dizer: o meu tempo está próximo, vou celebrar a Páscoa em tua casa, junto com meus discípulos’”. 19Os discípulos fizeram como Jesus mandou e prepararam a Páscoa. 20Ao cair da tarde, Jesus pôs-se à mesa com os doze discípulos. 21Enquanto comiam, Jesus disse: “Em verdade eu vos digo, um de vós vai me trair”. 22Eles ficaram muito tristes e, um por um, começaram a lhe perguntar: “Senhor, será que sou eu?” 23Jesus respondeu: “Quem vai me trair é aquele que comigo põe a mão no prato. 24O Filho do Homem vai morrer, conforme diz a Escritura a respeito dele. Contudo, ai daquele que trair o Filho do Homem! Seria melhor que nunca tivesse nascido!” 25Então Judas, o traidor, perguntou: “Mestre, serei eu?” Jesus lhe respondeu: “Tu o dizes”.

- Palavra da salvação.

- Glória a vós, Senhor!

 

 

 

 

Liturgia comentada

Ele desperta meus ouvidos... (Is 50, 4-9a)

 

Estranho órgão o ouvido humano! Ele pode ser surdo (Sl 58, 4), mouco, endurecido (Is 6, 10), incircunciso (Jr 6, 10), intencionalmente tapado (At 7, 57)... O ouvido prova as palavras, como o paladar prova a comida

(Jó 34, 3). Mas é pelo ouvido que vem a fé: fides ex auditu (Rm 10, 17).

Quando recebemos a fé? No Batismo cristão, de modo infuso. E um dos gestos batismais é exatamente a repetição do gesto de Cristo que soprou nos ouvidos do surdo: “Ephphatha! Éfata!” Abre-te! Há uma relação direta entre rito e realidade. Nascemos com nossos ouvidos tapados para a Palavra da verdade. Seqüelas da queda da origem...

Agora, Isaías nos anuncia as palavras que se aplicam ao Filho, aquele que acolhe sem reservas e sem condições a vontade do Pai. Muito além de nossa lógica humana, Jesus Cristo é, simultaneamente, o Verbo-Palavra eterna e, em sua natureza humana, o modelo perfeito de obediência à mesma Palavra. Em Jesus Cristo, a Palavra deixa de ser mera representação simbólica e convencional de pensamentos e conceitos: Jesus “É” a PALAVRA! O seu ser, ontologicamente, é a PALAVRA DE DEUS.

Na humilde Nazaré, criança e adolescente, Jesus terá ouvido muitas vezes a proclamação da Escritura, até mesmo da boca de José ou de Maria. Na sinagoga judaica, cada sílaba da Torá era captada pelos ouvidos de Jesus, ao perceber profundas ressonâncias no próprio coração. E à medida que ouvia a Palavra de Deus, Jesus humano se reconhecia nela: “É isto que eu quero. É isto que eu devo ser. É isto que EU SOU!” E assim, pouco a pouco, dia a dia, Deus despertava seus ouvidos.

A exemplo de Jesus, o cristão é alguém que mantém os ouvidos despertos. E se isto é graça, puro dom, é também fruto de uma disciplina, uma ascese, que se exercita no tempo. Com o tempo, a Palavra se torna “mais doce que o mel”, “luz em meu caminho”, “minha esperança”, “minha alegria” e “imenso tesouro” (Sl 119 [118], 103.105.114.162). A verdadeira identidade do cristão vem à tona no contato com a Palavra.

No silêncio e nas vigílias noturnas, na contemplação dos acontecimentos e da obra criada por Deus, abrem-se os nossos ouvidos para acolher a Palavra de vida eterna.

Orai sem cessar: “O zelo de vossa casa me consome!” (Sl 69 [68], 10)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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Meu tempo está próximo! (Mt 26,14-25)

Jesus Cristo não é uma vítima dos acontecimentos, não é arrastado pelo destino, não morre por acaso. Ele tinha consciência de sua missão como Cordeiro de Deus e sempre soube de sua “hora”. Chegou a dizer que ela ainda não havia chegado, como em Caná de Galileia (cf. Jo 2,4), mas percebia que ela se aproximava (cf. Mt 26,45) para cumprir uma tarefa que só ele mesmo poderia realizar.

Assim comenta Hébert Roux: “O tempo está próximo. Realiza-se aquilo que estava escrito. Todos os detalhes da última noite de Jesus com seus discípulos encontram seu sentido nesta dupla afirmação que domina toda a narrativa.

Jesus se prepara para celebrar a Páscoa com seus discípulos e começa por lhes dar instruções a esse respeito. Mateus ignora o homem do cântaro (cf. Mc 14) e indica simplesmente que Jesus em pessoa designa a casa de um discípulo anônimo como o local da celebração da refeição pascal. [...] Mas esta festa da Páscoa deve revestir-se, para Jesus e os seus, de um sentido novo, pois ‘o tempo está próximo’. Celebrando agora, no mesmo momento em que ele vai ser entregue e crucificado, o sacrifício que comemora a libertação e a salvação de Israel, Jesus se prepara para lhe dar uma nova significação.

No momento em que ele apresenta no meio de seus discípulos os sinais da graça de Deus, e em que ele se dá a eles como vítima expiatória pelo pecado, é que Jesus lhes revela o seu verdadeiro sofrimento e levanta o véu sobre a verdadeira situação deles enquanto homens pecadores. E não são repreensões que ele lhes dirige; Jesus constata o fato, e dele fala como sendo uma coisa inevitável: ‘O Filho do homem se vai, conforme o que está escrito a seu respeito.”

Como não pensar em Isaías 53,3 ou no Salmo 51,10, que descrevem com antecipação os detalhes dos sofrimentos do Servo de Deus? O próprio Mestre irá citar a profecia de Zacarias 13,7: “Fere o pastor e as ovelhas se espalharão”. Jesus chega a prever de uma só vez o abandono pelos seus, a traição de Judas e a negação de Pedro. E lhes fala abertamente da miséria humana que pulsa naqueles corações prontos a se escandalizarem com a prisão e a morte de seu Mestre.

Todos estavam prontos a esperar por um Messias vencedor, um novo Macabeu que expulsasse os romanos e quebrasse as cadeias do povo humilhado. Mas nem de longe podiam imaginar um Messias triturado pelo sofrimento, abandonado por todos e vencido pela morte. Ao menos, até a madrugada da ressurreição...

Orai sem cessar: “Não fiques longe de mim, pois a angústia está próxima!” (Sl 22,12)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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