TRADUÇÃO LIVRE – Amma Maria Ângela de Melo Nicolleti, NA
AUTORIA - Pe. Fernando Pascual
FONTE – www.es.catholic.net
Há pessoas que dissecam as demais como os colecionadores de insetos. Um alfinete bem colocado, e o próximo fica "fixo" e exposto numa caixa de cristal à vista de todos.
"Fulano é um superficial. Beltrano é um pobre coitado. Sicrano é um falso. Aquela senhora mente continuamente. Essa jovem anda sempre atrás de homens com dinheiro. Aquele trabalhador rouba sempre que pode. Este outro não sabe organizar-se nunca".
As etiquetas chegam como cravos e penetram até destruir a fama de familiares, amigos, companheiros de trabalho, conhecidos.
Também os de longe recebem suas qualificações. "O prefeito é um sem vergonha. O governador consegue tudo com subornos. O ministro de obras públicas não tem nem idéia do que tem nas mãos. O presidente promete mentiras sempre que fala..."
Inclusive, às vezes, os alfinetes caem sobre a própria pessoa. Olhamo-nos no espelho e reconhecemos nossa baixeza, nossa covardia, nossa superficialidade, nossa avareza, nossa gula... Nós nos "autodissecamos" com um alfinete próprio ou assumimos como verdadeiro aquilo que os outros deixaram cravado nas nossas costas.
Porém, nenhum dissecador, por mais aguçado e mordaz que seja, pode aniquilar a riqueza profunda que se esconde em cada coração humano.
"Os limites da alma não os acharás andando, qualquer que seja o caminho que percorras, tão profundo é seu fundamento", dizia Heráclito.
Todos nós temos em nossas mãos a possibilidade da mudança, da surpresa, das decisões radicais. Porque uma pessoa, até agora tíbia, pode ser incendiada pelo amor. Porque outro, sempre visto como um covarde, pode nos mostrar sua valentia diante de uma proposta nobre. Porque um criminoso (verdadeiro, não apenas suposto) é capaz de pedir perdão e mudar de vida. Porque um agiota tem em seu interior energias suficientes para romper com seu passado e começar a ajudar suas vítimas. Porque um político pode deixar sua vida de mentiras para começar a servir a todos os habitantes de seu estado (também aos não nascidos, também aos estrangeiros).
Nenhum ser humano conhece a fundo o mistério dos corações. Somente Deus penetra o que há em meu interior. Com Sua ajuda. Posso reconhecer minhas faltas, meus egoísmos, minha soberba, meus rancores sempre ardentes. Com Sua graça, posso denunciar meus males, romper com meu pecado, dizer não às tentações de cada dia, dar um SIM pleno a Deus e a quem me pede uma mão.
"O Espírito tudo sonda, até as profundezas de Deus. Com efeito, que homem conhece o íntimo do homem senão o espírito do homem que está nele? Do mesmo modo, ninguém conhece o íntimo da Deus, senão o Espírito de Deus" (1 Cor 2, 10-11).
A partir desse Espírito de Deus, posso conhecer meu próprio espírito, posso descobrir o que há em minha alma. Também posso chegar a ver os demais de modo diferente. Não como um dissecador de almas, mas como quem se sente amado por Deus e descobre que esse amor chega a todos, convida a todos, chama a todos a uma vida diferente, mais bela, maior, melhor, mais feliz.