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Liturgia comentada de 16 de fevereiro de 2025

Porque sereis saciados… (Lc 6,17.20-26)

 

Já não é muito comum a palavra “fastio”. Parece fora de uso. Mas está registrada no dicionário: FASTIO. [Do lat. fastidiu.] Substantivo masculino. 1. Aversão a alimento. 2. P. ext. Falta de apetite. 3. Repugnância, aversão. 4.Tédio, aborrecimento.

Às vezes, a pessoa recusa o alimento: “Obrigado, estou enfastiado…” Isto é, como diz o povo bom, “o melhor tempero é a fome”. Quem está de barriga cheia nem prova os alimentos que lhe são oferecidos.

Acredito que assim possamos entender melhor a pregação de Jesus, o sermão das bem-aventuranças, quando o Mestre nos fala de uma situação atual (pobreza, fome, lágrimas) para nos acenar com uma situação futura (o Reino, o banquete, a alegria). Acontece que uma situação é condição para a outra. Quem já está rindo, não encontrará a alegria. Quem já está de pança cheia não espera pelo festim. Quem já acumulou muitas posses não há de se interessar pelo Reino de Deus.

Se você duvida, faça uma rápida pesquisa à sua volta: veja quem está interessado no “céu”… Veja quem já está orientando a vida “atual” em função da vida “futura”. Veja quem sabe relativizar os sofrimentos de agora, na certeza da consolação que há de vir… Certamente vai constatar que os alvos e os objetivos são todos de curto prazo, aqui e agora, e – naturalmente – todos eles efêmeros e transitórios.

Nosso HOJE logo passa, é passageiro, recorda o monge André Louf. Se matamos JÁ a nossa fome, chegaremos enfastiados ao fim da vida terrena. Se saciamos JÁ a nossa sede, não teremos interesse pelo rio de água viva (cf. Ap 22,1).

Comenta o mesmo monge: “O hoje é apenas provisório. É importante permanecer com fome. Os bens deste mundo são apenas um primeiro reflexo, um antegosto insosso da glória que nos está destinada. É preciso não se enganar com a glória. É preciso não errar de fome. As fomes terrestres podem ser cavernosas, vertiginosas. Mas não são a fome última do homem. Aquelas encontram com que se saciar aqui embaixo; esta é reservada para aquilo que se seguirá depois…”

“É importante que esta fome permaneça viva aqui embaixo, que ela não venha a ser esquecida nas farturas e satisfações de nossas fomes superficiais e transitórias. Em cada homem existe, nas profundezas de seu ser, uma falha que é, ao mesmo tempo, o limite de seu ser e uma abertura, vertiginosa, para o Criador. É importante que não seja obturada por objetos inúteis esta profundidade escancarada que nos abre para Deus e para seu Reino.”

Nesta visão, as bem-aventuranças deixam de ser uma página poética e revelam seu potencial de orientação, de bússola para nosso caminho. Caminhar hoje à espera do amanhã…

Orai sem cessar: “Feliz o homem que põe no Senhor a sua esperança!” (Sl 40,5)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.