Os celebrantes da liturgia sacramental (CIC § 1140 a 1144)

Aqui são compreendidos todos os batizados, como povo reunido e assembléia orante. A não participação do fiel batizado nas celebrações litúrgicas empobrece a visão teológica da Igreja, por mais que se queira justificar com a objetividade de outros engajamentos eclesiais.

É toda a comunidade, o corpo de Cristo unido à sua Cabeça, que celebra. “As ações litúrgicas não são ações privadas, mas celebrações da Igreja, que é o 'sacramento da unidade', isto é, o povo santo, unido e ordenado sob a direção dos Bispos. Por isso, estas celebrações pertencem a todo o corpo da Igreja, influem sobre ele e o manifestam; mas atingem a cada um de seus membros de modo diferente, conforme a diversidade de ordens, ofícios e da participação atual efetiva [SC 26] .” É por isso que “todas as vezes que os ritos, de acordo com sua própria natureza, admitem uma celebração comunitária, com assistência e participação ativa dos fiéis, seja inculcado que na medida do possível, ela deve ser preferida à celebração individual ou quase privada [SC 27] ”.

Graças ao nosso Batismo e à Confirmação, nós nos tornamos aptos para celebrar a Eucaristia. Por isso, "as ações litúrgicas não são ações privadas, mas celebrações da Igreja, pertencem a todo o corpo da Igreja." Daí, Cristo oferecendo-se na missa, nós também somos oferecidos ao Pai por Ele e com Ele. Desta maneira, embora às vezes iconscientes, participamos de todas as missas que se celebram no mundo.

E qual deve ser a nossa participação na missa? Certamente, nunca poderá ser a atitude dos apóstolos no Horto das Oliveiras, que dormiram enquanto Jesus estava sofrendo. Não podemos tomar uma atitude de desinteressados, distantes e alheios ao acontecimento da celebração eucarística. Seria só uma presença física de nenhum proveito espiritual.

A verdadeira participação consiste em se oferecer com Cristo ao Pai, oferecer a própria vida, os seus trabalhos, sofrimentos, as alegrias, finalmente tudo ao Pai, em íntima união com Cristo. Esta é a verdadeira participação interior e essencial.

A participação externa, as orações, os gestos, os cantos, são louvores que dirigimos ao Pai. Eles têm a finalidade de dispor-nos à uma participação interior, mais viva e consciente. Uma missa barulhenta poderá dificultar a nossa participação consciente interior, porque poderá nos distrair e dirigir a nossa atenção para coisas secundárias. A participação interior e sempre mais importante que a participação exterior.

CIC § 1141

A assembléia que celebra é a comunidade dos batizados, os quais, “pela regeneração e unção do Espírito Santo, são consagrados para serem casa espiritual e sacerdócio santo e para poderem oferecer um sacrifício espiritual toda atividade humana do cristão [LG 10] ”. Este “sacerdócio comum” é o de Cristo, único sacerdote, participado por todos os seus membros [Cf. LG 10; 34; PO 2] :

A mãe Igreja deseja ardentemente que todos os fiéis sejam levados àquela plena, consciente e ativa participação nas celebrações litúrgicas que a própria natureza da liturgia exige e à qual, por força do batismo, o povo cristão, “geração escolhida, sacerdócio régio, gente santa, povo de conquista” (1 Pd 2,9) [Cf 1 Pd 2,4-5], tem direito e obrigação [SC 14] .

"Sacrifício (ou culto) espiritual é o sacrifício ou a oferenda de toda a nossa vida material ou corpórea, penetrada e vivificada pelo Espírito Santo como o sacrifício de Cristo foi movido pelo Espírito Santo: "Pois em virtude do Espírito Eterno, Cristo se ofereceu a si mesmo a Deus como vítima sem mancha" (Hb 9,14).

Alias, ao fazermos de toda a nossa vida uma oblação de culto a Deus, nós cristãos não fazemos senão reproduzir o gesto de Cristo, que, desde o seu nascimento no seio de Maria, se ofereceu ao Pai como Hóstia viva e consciente em lugar das vítimas irracionais da Antiga Aliança: é o que diz o autor de Hb 10,5-7.10: "Ao entrar no mundo, Cristo declara: 'Não quiseste vítima nem oferenda, mas formaste um corpo para mim. Não foram do teu agrado holocaustos nem sacrifícios pelo pecado. Então eu disse: Eis que eu vim, ó Deus, para fazer a tua vontade...' É em virtude desta vontade que somos santificados pela oferenda do corpo de Jesus Cristo, realizada uma vez por todas".

"Este texto apresentando toda a vida de Jesus Cristo, como culto de louvor e expiação a Deus Pai, é de capital importância: vem ser para todos nós cristãos, um programa, que devemos reproduzir em si essa atitude de permanente oblação ao Pai com Cristo, animada pelo Espírito Santo."

"A íntima comunhão com Cristo faz que toda a nossa vida cristã, por mais modesta, ignorada e sofrida que seja, tenha alto valor; ela é a continuação da oferta que Cristo fez de Si ao Pai para a redenção do mundo e, por isto, participa da eficácia redentora ou salvífica da obra realizada por Cristo." (Curso de Liturgia por correspondência, Escola "Mater Ecclesiae", pág. 2, Dom Estévão Bettencourt).

"Inserido no Corpo Místico de Cristo pelo Batismo e a Eucaristia, o cristão é remido e torna-se corredentor." (Papa Pio XII, Encíclica Mystici Corporis nº 106).

Para refletir:

Amigo(a) ouvinte, o que Deus quer do homem, não são as coisas do homem (os animais e os frutos), mas o próprio coração humano; as vítimas qe eram oferecidas no culto do Antigo Testamento e em outras religiões, são apenas símbolos da doação interior da criatura ao Criador. A religião em sua raiz mais profunda é a religião do coração já apregoada pelo profeta Jeremias (31,31-33). Por isto Jesus se apresentou como um novo templo ("o Templo do seu corpo!", cf. Jo 2,14-22), no qual se realiza um novo culto.

Você que me ouve nesse momento toma parte ativa e solicitamente nos atos litúrgicos de sua comunidade?

Logo no inicio do Santo sacrifício da Missa confessamos a Deus todo poderoso e aos irmãos e irmãs os pecados que praticamos por pensamentos, palavras, atos e omissões. Portanto, diante de toda a corte celeste e na presença dos irmãos realizamos este belo ato litúrgico. Em seguida pedimos à Virgem Maria, aos anjos e Santos, aos irmãos e irmãs que roguem a Deus por nós. É um magnífico intercâmbio, é também o encontro da liturgia celeste e terrestre.

CIC § 1142

Mas “os membros não têm todos a mesma função” (Rm 12,4). Certos membros são chamados por Deus, na e pela Igreja, a um serviço especial da comunidade. Tais servidores são escolhidos e consagrados pelo sacramento da ordem, por meio do qual o Espírito Santo os torna aptos a agir na pessoa de Cristo-Cabeça para o serviço de todos os membros da Igreja [Cf. PO 2 e 15] . O ministro ordenado é como o ícone de Cristo Sacerdote. Já que o sacramento da Igreja se manifesta plenamente na Eucaristia, é na presidência da Eucaristia que o ministério do Bispo aparece primeiro, e, em comunhão com ele, o dos presbíteros e dos diáconos.

É importantíssimo notar que é do Sacramento da Ordem a garantia de que, nos Sacramentos, é Cristo mesmo que age pelo Espírito Santo para o bem da Igreja. Este ministério sacerdotal foi instituido por Jesus para estar a serviço do sacerdócio batismal de todos os demais fiéis.

A missão de salvação confiada pelo Pai a seu Filho encarnado é confiada aos apóstolos e, por meio deles, a seus sucessores: recebem o Espírito de Jesus para agirem em seu nome e em sua pessoa (cf. Jo 20,21-23; Lc 24,47; Mt 28,18-20).

Prezado(a) ouvinte, é importante esclarecer que: "O sacerdote não representa Cristo, mas 'age na pessoa de Cristo Cabeça'. Para entender o que significa agir na pessoa de Cristo Cabeça, por parte do sacerdote, e para compreender inclusive quais consequências derivam da tarefa de representar o Senhor, antes de tudo é preciso esclarecer o que se entende por "representação". O sacerdote representa Cristo. O que quer dizer, o que significa "representar" alguém? Na linguagem comum, quer dizer geralmente, receber uma delegação de uma pessoa para estar presente no seu lugar, falar e agir no seu lugar, porque quem é representado está ausente da ação concreta. Pergunto: o sacerdote representa o Senhor do mesmo modo? A resposta é não, porque na Igreja Cristo nunca está ausente, a Igreja é o seu corpo vivo e a Cabeça da Igreja é Ele, presente e em ação nela. Cristo nunca está ausente, aliás está presente de um modo totalmente livre dos limites de espaço e tempo, graças ao evento da [Sua] Ressurreição.

Portanto, o sacerdote que age na pessoa de Cristo Cabeça e em representação do Senhor, nunca age em nome de um ausente, mas na própria Pessoa de Cristo Ressuscitado, que se torna presente com a sua ação realmente eficaz. Age de fato e realiza o que o sacerdote não poderia fazer: a consagração do vinho e do pão para que sejam realmente presença do Senhor, a absolvição dos pecados. O Senhor torna presente a sua própria ação na pessoa que realiza tais gestos." (Papa Bento XVI, na audiência Geral de 14 de abril de 2010).

CIC § 1143

No intuito de servir às funções do sacerdócio comum dos fiéis, existem também outros ministérios particulares, não consagrados pelo sacramento da ordem, e cuja função é determinada pelos bispos de acordo com as tradições litúrgicas e as necessidades pastorais. “Também os ajudantes, os leitores, os comentaristas e os membros do coral desempenham um verdadeiro ministério litúrgico [SC 29] .”

É na presidência da Eucaristia que o ministério do Bispo aparece primeiro, e, em comunhão com ele, o dos presbíteros. Há também outros ministérios particulares, não consagrados pelo sacramento da ordem: os ajudantes, os leitores, os comentaristas e os membros do coral, que desempenham um verdadeiro ministério litúrgico.

O Leitor é instituído para fazer as leituras da Sagrada Escritura, com exceção do Evangelho. Devem ser aptos para o desempenho de sua função e se tenham cuidadosamente preparado, de tal modo que, pela escuta das leituras divinas, os fiéis desenvolvam no seu coração um afeto vivo e suave pela Sagrada Escritura. O Comentador, incumbido de fazer os fiéis, se for oportuno, breves explicações e admonições cuidadosamente preparadas e sóbrias, a fim de os introduzir na celebração e os dispor a compreendê-la melhor. O Coral compete executar devidamente, segundo os diversos gêneros de cânticos, as partes musicais que lhe estão reservadas e animar a participação ativa dos fieis no canto. Cabe ajudar a todos os fiéis na execução adequada dos cânticos, podendo cantar em diálogo com a assembléia dos fiéis (por exemplo estrofes, deixando o refrão para todos), ou simplesmente ajudar cantando com todo o povo. Não deve cantar em substituição à assembléia. A orquestra ou o conjunto de instrumentos musicais tem por função ajudar a sustentar o canto litúrgico.

CIC § 1144

Assim, na celebração dos sacramentos, a assembléia inteira é o “liturgo”, cada um segundo sua função, mas na “unidade do Espírito”, que age em todos. “Nas celebrações litúrgicas, cada qual, ministro ou fiel, ao desempenhar sua função, faça tudo e só aquilo que pela natureza da coisa ou pelas normas litúrgicas lhe compete [SC 28] .”

Em nosso corpo humano, cada membro tem a sua função. No corpo de Cristo, que é a Igreja, do qual fazemos parte, também deve ser assim. Nele há várias funções e cada um deve exercer bem a sua função. E somente a sua! No corpo humno, o pé não pode fazer as vezes da mão; a mão não pode substituir a cabeça... Na liturgia deve estar muito bem expresso aquilo que somos, corpo de Cristo feito de muitos membros, e cada qual com sua função a serviço do todo. O povo não deve rezar as orações que competem ao padre. O coral não deve substituir o povo nas partes que lhe competem. Cada qual deve ficar com a sua função, com o seu serviço, e fazê-lo bem. Portanto, deve-se evitar que a mesma pessoa acumule o serviço de outras: ser leitor e acólito, cantor e animador... Trata-se de um princípio que vem da própria Igreja: “Nas celebrações litúrgicas, cada qual, ministro ou fiel, ao desempenhar a sua função, faça tudo e só aquilo que, pela natureza da coisa ou pelas normas litúrgicas, lhe compete” (SC 28).

Para refletir:

Amigo(a) ouvinte, forme com todos os fiéis um só corpo, quer ouvindo a Palavra de Deus, quer participando nas orações e no canto, quer sobretudo na comum oblação do sacrifício e na comum participação da mesa do Senhor. Esta unidade manifesta-se em beleza nos gestos e atitudes corporais que os fiéis observam todos juntamente.

Não recuse servir com alegria o povo de Deus, sempre que você for solicitado para desempenhar qualquer especial ministério ou função na celebração.

Diácono Antonio Carlos
Comunidade Católica Nova Aliança