Entre outras coisas, hoje, os distintos expositores que me precederam disseram e os depois de mim sem dúvida dirão:
• Como enfrentar o desafio do futuro e como planejar as estratégias necessárias.
• Como criar uma estrutura e um ambiente adequado para a mudança.
• Como conseguir que nossos colaboradores dêem o melhor de si mesmos.
• Como ganhar a vontade dos clientes para que comprem de nós.
• Como manter motivados e competitivos nossos colaboradores.
• Qual é o futuro da globalização e da economia mundial.
• Qual é o conceito real do que é um ser humano para que a empresa o potencialize.
1. QUAL É O LADO HUMANO DA EMPRESA?
Na empresa, há coisas materiais e seres humanos.
O MATERIAL são suas matérias-primas, suas máquinas, seus sistemas e procedimentos, sua tecnologia, seus produtos, seus serviços e, agora, tem-se que dizer também, seus computadores. E também O HUMANO: seus diretores, seus executivos, gerentes, supervisores, empregados e trabalhadores das mais diversas atividades: seres humanos.
Em 1966, Douglas McGregor, escreveu um livro que teve grande divulgação: O LADO HUMANO DA EMPRESA. Sinalizou que uma das maiores tarefas da empresa é organizar o esforço humano para alcançar seus objetivos econômicos, despertar o potencial presente em seu pessoal, e que uma das falhas mais comuns procedem de sua idéia equivocada da natureza do controle no campo da conduta humana.
Propôs um enfoque mais sensível aos valores humanos para conseguir o autocontrole, para que o pessoal fosse mais responsável mediante um código ético consciente e positivo. Isto tem a ver, de algum modo, com o conceito de "responsabilidade social" de que tanto se fala hoje.
McGregor foi o autor da teoria "e" que se contrapõe à teoria "x". Entendia por teoria "x": obter resultados simplesmente por um exercício firme da autoridade e do controle. A teoria "e", ao contrário, propiciava a criação de condições de tal maneira que os membros da empresa pudessem alcançar melhor suas próprias metas, dirigindo seus esforços para o êxito da empresa.
Em poucas palavras: reconhecendo os seres humanos, ao chamado fator humano, como alguém distinto e superior ao material e, por isso, com um potencial extraordinário para o bem da empresa.
2. O QUE É UM SER HUMANO?
Devemos fazer-nos a pergunta acima. Na ordem natural, é um indivíduo dotado de razão, de vontade livre e com capacidade de receber e expressar afeto.
Na ordem sobrenatural, é um ser criado à imagem de Deus e com um destino eterno. Por tudo isto se diz que o ser humano é uma pessoa e essa dignidade de pessoa humana o faz distinto e superior aos demais seres.
Por sua dignidade de pessoa humana, deve respeitar-se a si mesmo, deve respeitar aos demais e exigir ser respeitado. E tudo isto lhe confere uma série de direitos que têm sido reconhecidos universalmente.
O homem é um ser individual e, por isso, busca primordialmente seu próprio bem. Porém, é também um ser social. Nasce, cresce, se desenvolve e morre em sociedade e necessita dela para sobreviver, progredir e superar-se.
Deve ajudar-se a si mesmo, porém deve ajudar também ao grupo que, por sua vez, o ajudará também. Não pode separar o individual e o social que leva em si mesmo. Tem que ser ambas as coisas e harmonizá-las o melhor possível. As ideologias que insistem exclusivamente no individual ou no social do homem estão equivocadas.
3. QUE É, POIS, "O SOCIAL"?
Em poucas palavras, é a interação do homem com os demais homens. Sua finalidade externa é contribuir plenamente com o desenvolvimento da sociedade na qual se encontra. Sua finalidade social interna é a de contribuir plenamente com o desenvolvimento de seus membros.
Em poucas palavras, as finalidades econômicas e sociais da empresa são para servir aos homens de fora e aos homens de dentro da empresa e ambos estão estreitamente vinculados.
4. EM QUE CONSISTE A RESPONSABILIDADE SOCIAL DA EMPRESA E QUE ALCANCES TEM?
Tem-se falado muito da responsabilidade da empresa e em poucas palavras pode-se dizer que consiste em cumprir com suas finalidades como explicamos.
Álvaro D´Ávila, da Fundação Social da Colômbia, disse que "esta responsabilidade social surge da consciência crescente de que todas as nossas decisões têm um efeito que vai mais além das nossas empresas. A sociedade é como uma teia de aranha: o que sucede em qualquer parte dela se transmite, para o bem ou para o mal, a todo conjunto. Somos fios nesta teia de aranha, porém, também somos os tecelões da mesma".
Sem dúvida, a respeito da responsabilidade da empresa, recentemente Klaus Schwab, Presidente da World Economic Forum, dizze que esta tendência de sobrecarregar as empresas com a carga da responsabilidade social está, talvez, chegando longe demais. Se se entende como responsabilidade social aquilo que as empresas têm por projetos filantrópicos de qualquer tipo, esta observação pode ser certa. Porém, isto não constitui o essencial de sua responsabilidade social. Ao meu juízo, o essencial é a atitude que as empresas devem ter para com todas as pessoas com as quais entram em contato, atitude de respeito, de confiança, de serviço. Atitude que deve se refletir em sua relação com a comunidade, com o entorno físico, com as autoridades.
A empresa, como pessoa moral que é, deve se comportar como uma boa cidadã. Porém, por outra parte, deve-se sublinhar que a principal responsabilidade social das empresas em sua finalidade econômica, é criar riqueza, proporcionar bens e serviços à sociedade na qual se encontram e contribuir para criar empregos para os que precisam trabalhar e não têm os meios para fazê-lo.
Com frase concisa e memorável, Peter Dricker disse que as empresas devem fazer bem as coisas ("do web") para poder fazer o bem ("do good").
5. É POSSÍVEL UMA EMPRESA SER ALTAMENTE PRODUTIVA E PLENAMENTE HUMANA?
Um grande desafio às empresas é conciliar suas exigências econômicas com suas exigências sociais.
Uma meta ambiciosa e de grande transcendência é que a empresa seja altamente produtiva, é seu dever de Estado como célula econômica básica da sociedade. É também que seja plenamente humana como uma das células sociais básicas da sociedade e que isso deve estar presente em toda a sua conduta com as diferentes pessoas com as quais entra em contato em sua vida econômica.
Esta exigência de conciliar o produtivo com o humano é um desafio fundamental para os dirigentes de empresa e, em geral, para todos os que nela trabalham. São exigências muitas vezes opostas e sua conciliação requer não somente a fria razão, mas também a imaginação, a intuição e um profundo sentido humano de discernimento, e serviço, e ainda de afeto.
Qual é a ética que deve reger uma empresa? É a que leva a focalizar a necessidade de realizar suas atividades de acordo com princípios e valores morais.
A liberdade, atributo essencial do ser humano, é um dinamismo básico, cuja força criadora destaca a empresa como uma realidade social evidente.
A ética não é algo que deve reger somente o âmbito pessoal, mas inclui necessariamente o social. Não é aceitável a contraposição entre uma liberdade individual, regida pela ética, e uma liberdade social no econômico, totalmente neutra.
E não há dúvida que a liberdade, essa mola insubstituível para a ação empresarial, deve conciliar-se com a responsabilidade de ser utilizada para o bem dos homens, tanto os de dentro como os de fora da empresa.
O campo da economia é o do aproveitamento ótimo dos recursos escassos. O campo da ética é o do que se deve fazer para o bem do homem. Sempre existirá uma tensão entre o que se pode fazer – campo da economia – e o que se deve fazer – campo da ética. O dever do dirigente de empresa é esforçar-se por aproximar, o mais possível, o que se deve fazer com o que se pode fazer.
6. QUAIS SÃO OS PRINCÍPIOS E OS VALORES QUE DEVEM REGER UMA EMPRESA?
Não é fácil definir os princípios e os valores que devem reger a vida de uma empresa. Sem dúvida, há toda uma corrente na qual estes princípios e valores se definem e, no que for possível, que se façam explícitos nos ideários, decálogos, etc.
O problema é que muitas vezes estes ideários ou decálogos são simples expressões de boa vontade, com poucas conseqüências práticas, e que são recebidos com desconfiança tanto dentro como fora da empresa.
A questão não é ter definidos esses princípios e valores, mas, sobretudo, que a alta direção e os chefes em geral tenham a audácia de cumpri-los e fazê-los cumprir. Entre outros princípios e valores se encontram a integridade moral dos dirigentes, a justiça nas transações, o trato com o pessoal, o respeito às leis, a honestidade, o trabalho em equipe, o sentido do lucro, o serviço do cliente.
7. QUE PESO DEVE TER A INTEGRIDADE MORAL NAS QUALIDADES DE UM DIRIGENTE DE EMPRESA?
Um dos temas chaves da ética da empresa é, particularmente, o da integridade moral de seus dirigentes, em todos os níveis.
Em um extraordinário livro publicado a quase 20 anos, sob o título "Um novo espírito empresarial", seu autor, Lawrence M. Miller, dizia: "A liderança requer seguidores e o ato de seguir é um ato de confiança e fé no líder, e essa fé pode apenas ser gerado se os lideres agirem com integridade (...) e a integridade é honestidade e persecução responsável e consistente de um curso de ação estabelecido".
Miller contava mais como nesta pesquisa da American Management Association, para 1.500 gerentes e executivos, a integridade moral foi a qualidade mais admirada tanto por seus superiores como por seus companheiros e subordinados.
Também no "Cox Reporto on the American Corporation" a honradez foi a qualidade que recebeu a maior pontuação. O que dizer hoje a respeito disto tudo diante da conduta irresponsável e que ainda implica delito dos executivos de Eron e outras empresas, nos Estados Unidos, um dos empreendimentos empresariais mais imorais e escandalosas dos últimos tempos?!
8. QUAIS SÃO AS CONTRIBUIÇÕES ESPECÍFICAS DA EMPRESA PARA A SOCIEDADE?
Um tema consolador é a valiosíssima colaboração que costumam fazer as empresas à sociedade no desempenho da sua atividade econômica. Uma das leis de ferro das empresas é seu crescimento e contínua melhoria, e, neste aspecto, a qualidade, a inovação e a produtividade têm um primeiro ponto.
Estas conquistas são as que vão dar às empresas vantagens no desapiedado mundo competitivo no qual nos encontramos.
- Há que lutar para desterrar da empresa o que se chamou de relação adversária: a atitude de pressão e de defesa contínua entre os que mandam e os que devem obedecer.
- Há que se insistir na possibilidade de conciliar os interesses econômicos da empresa com as exigências de justiça dos que nela trabalham.
- Há que se cuidar de que o pessoal de todos os níveis se envolva nas finalidades da empresa como se fossem próprias: participar no projeto, na aventura que é a empresa na medida em que esteja ao seu alcance. Há que se conseguir que os que trabalham na empresa possam colaborar com a sua imaginação, sua iniciativa, com seu entusiasmo.
- Há que introduzir na empresa esse sentido humano de que temos falado, vivificando as relações de chefes e colaboradores e do pessoal entre si, com o respeito que cada um merece, impregnando-os de estrito sentido de justiça e de mútua confiança e ainda inspirando-os com a estima e o afeto que devemos ter todos para com o próximo da nossa vida de trabalho, nossos empregados, nossos companheiros, nossos chefes.
Aqui, cabe citar o que relatou Lawrence Miller no livro que mencionei. A fonte da qualidade, da inovação e da produtividade se tem, sem dúvida, nos seres humanos que integram a empresa. Daqui a importância pela qual temos insistido nesta exposição que aos homens da empresa se lhes dê a atenção que, como tais, merecem, nos mais diversos aspectos.
9. SE O TRABALHO É O FATOR FUNDAMENTAL DA EMPRESA, COMO PODE SER POTENCIALIZADO?
Toda esta exposição de referiu à importância do ser humano para a empresa, tanto os que a integram como todas as pessoas com as quais, de um modo ou de outro, a empresa entra em contato. Sem dúvida, então, quero me referir especialmente a esses homens e a essas mulheres que constituem a força de trabalho da empresa, incluindo aqui desde o mais elevado cargo até o mais modesto trabalhador.
Foi dito à saciedade que uma empresa vale pelo que valem as pessoas que a integram e que da qualidade e do desempenho delas dependerão a qualidade e o desempenho da empresa. E, se esta força de trabalho é seu fator fundamental, se o esforço, o interesse e a atitude dos que na empresa trabalham são tão importantes, devemos lutar para que tenham oportunidades de as dar à empresa com o melhor de si mesmos tanto para seu bem pessoal como para o da empresa.
Falou-se muito e se escreveu muito sobre isto, porém há alguns tantos quantos pontos fundamentais.
Os trabalhadores da Preston Trucking haviam realizado um trabalho verdadeiramente sobre-humano em favor de sua empresa e alguém cético, lhes perguntou por que haviam feito tudo isso pela Preston Trucking. Um trabalhador endurecido, militante de tradicionais lutas sindicais, lhe respondeu: "Escuta, amigo, nós não trabalhamos para a Preston Trucking, nós somos Preston Tracking". Tudo isto foi levado a cabo de algum modo com todas as técnicas modernas de administração: a ergonomia, as relações humanas, as equipes autônomas, as subgerências, o enriquecimento do trabalho, a apropriação dos objetivos da empresa.
10. EM QUE CONSISTE A PARTICIPAÇÃO FUNCIONAL DOS TRABALHADORES NA EMPRESA?
E nisto, uns dos instrumentos mais importantes é a chamada participação funcional dos trabalhadores e empregados nas decisões de seu trabalho que os afetam e que lhes dizem respeito diretamente.
Os passos para que aqueles que trabalham possam tomar decisões sem necessidade de recorrer aos seus chefes são os seguintes:
• O primeiro é logicamente a capacitação.
• O segundo é a comunicação.
• O terceiro é a consulta
• O quarto é a decisão.
11. AO QUE SE PODE CHAMADAR "A ALMA" DA EMPRESA?
Todos os bens e todos os sistemas devem estar ao serviço do homem. A empresa é para o homem e não o homem para a empresa. Tudo isto deve conduzir a uma ordem social que esteja verdadeiramente à escuta do homem, verdadeiramente ao seu serviço. Um mundo de convivência mais justo e mais humano.
Para concluir: é muito importante que a empresa, para cumprir com sua responsabilidade social e tenha esse sentido humano do que se falou, seja uma empresa com alma.
Que ela não seja uma simples máquina de produzir e de fazer dinheiro. Que os que a criaram e a administram tenham a vocação de fazer algo valioso, algo que transcenda, algo de que possam se sentir orgulhosos. A empresa com alma é aquela na qual seus dirigentes não somente crêem profundamente em sua filosofia, nos seus valores e objetivos, mas que os vivem e os expressam com entusiasmo em tudo o que fazem. Executivos que não dirigem apenas com sua inteligência, mas também com seu coração.
E este espírito, esta alma da empresa, é o que pode fazer dela não somente um meio para que cada um ganhe a vida dignamente, mas também, o lugar onde seja alguém, onde possa alcançar sua própria realização e ser feliz.
AUTORIA – Lorenzo Servitje
TRADUÇÃO LIVRE – Amma Maria Ângela de Melo Nicolleti
FONTE – www.es.catholic.net