SEXTA FEIRA DA VII SEMANA DO TEMPO COMUM
(verde - ofício do dia)
Antífona
- Confiei no vosso amor, Senhor. Meu coração por vosso auxilio rejubile, e que eu vos cante pelo bem que me fizestes! (Sl 12,6).
Coleta
- Concedei-nos, Deus todo-poderoso, meditar sempre as realidades espirituais e praticar, em palavras e ações, o que vos agrada. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus e conosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos.
1ª Leitura: Tg 5,9-12
- Leitura da carta de são Tiago: 9Irmãos, não vos queixeis uns dos outros, para que não sejais julgados. Eis que o juiz está às portas. 10Irmãos, tomai por modelo de sofrimento e firmeza os profetas, que falaram em nome do Senhor. 11Reparai que consideramos como bem-aventurados os que perseveraram. Ouvistes falar da perseverança de Jó e conheceis o êxito que o Senhor lhe deu - pois o Senhor é rico em misericórdia e compassivo. 12Sobretudo, meus irmãos, não jureis, nem pelo céu, nem pela terra, nem por qualquer outro forma de juramento. Antes, que o vosso sim seja sim, e o vosso não, não. Então não estareis sujeitos a julgamento.
- Palavra do Senhor.
- Graças a Deus.
Salmo Responsorial: Sl 103,1-4.8-9.11-12 (R: 8a)
- O Senhor é indulgente, é favorável.
R: O Senhor é indulgente, é favorável.
- Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e todo o meu ser, seu santo nome!
Bendize, ó minha alma, ao Senhor, não te esqueças de nenhum de seus favores!
R: O Senhor é indulgente, é favorável.
- Pois ele te perdoa toda culpa, e cura toda a tua enfermidade;
da sepultura ele salva a tua vida e te cerca de carinho e compaixão.
R: O Senhor é indulgente, é favorável.
- O Senhor é indulgente, é favorável, é paciente, é bondoso e compassivo.
Não fica sempre repetindo as suas queixas, nem guarda eternamente o seu rancor.
R: O Senhor é indulgente, é favorável.
- Quanto os céus por sobre a terra se elevam, tanto é grande o seu amor aos que o temem; quanto dista o nascente do poente, tanto afasta para longe nossos crimes.
R: O Senhor é indulgente, é favorável.
Aclamação ao santo Evangelho.
Aleluia, aleluia, aleluia.
Aleluia, aleluia, aleluia.
- Vossa Palavra é a verdade; santificai-nos na verdade! (Jo 17,7).
Aleluia, aleluia, aleluia.
Evangelho de Jesus Cristo, segundo Marcos: Mc 10,1-12
- O Senhor esteja convosco.
- Ele está no meio de nós.
- Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo † segundo Marcos.
- Glória a vós, Senhor!
- Naquele tempo, 1Jesus foi para o território da Judeia, do outro lado do rio Jordão. As multidões se reuniram de novo em torno de Jesus. E ele, como de costume, as ensinava. 2Alguns fariseus se aproximaram de Jesus. Para pô-lo à prova, perguntaram se era permitido ao homem divorciar-se de sua mulher.
3Jesus perguntou: “O que Moisés vos ordenou?” 4Os fariseus responderam: “Moisés permitiu escrever uma certidão de divórcio e despedi-la”. 5Jesus então disse: “Foi por causa da dureza do vosso coração que Moisés vos escreveu este mandamento. 6No entanto, desde o começo da criação, Deus os fez homem e mulher. 7Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e os dois serão uma só carne. 8Assim, já não são dois, mas uma só carne. 9Portanto, o que Deus uniu, o homem não separe!” 10Em casa, os discípulos fizeram, novamente, perguntas sobre o mesmo assunto. 11Jesus respondeu: “Quem se divorciar de sua mulher e casar com outra, cometerá adultério contra a primeira. 12E se a mulher se divorciar de seu marido e casar com outro, cometerá adultério”.
- Palavra da salvação.
- Glória a vós, Senhor!
Liturgia comentada
Uma só carne... (Mc 10,1-12)
Sim, Moisés “amaciara” a questão. Deu forma oficial (cf. Dt 24,1-4) ao processo de repudiar a esposa na qual se via algo de “vergonhoso”. O estatuto inicial – a indissolubilidade – era abandonado diante da incapacidade de ser respeitado por homens duros de coração. Ao permiti-lo, porém, Moisés obrigava o marido a agir de tal modo que a repudiada tivesse nova oportunidade de constituir família. Era este o objetivo do libelo de divórcio. O homem não podia simplesmente expulsar a esposa de sua casa. Vejam o que escreve o Ir. Éphraim:
“O guet, o bilhete de divórcio, é liberado pelo Beth din, o tribunal rabínico; trata-se de um ato religioso que servirá à mulher como de um “passaporte” para sua dignidade: ela não será a repudiada que se pode, hoje, encontrar nos meios semíticos não judaicos, a mulher que ninguém mais quer, porque ela já serviu e desagradou, como um objeto que se joga fora. A mulher judia é protegida pelo guet, como no casamento, e seus direitos estavam garantidos pelo contrato de matrimônio chamado ketubá. Segundo os rabinos, ela deve se casar de novo após um espaço de 91 dias, a fim de se assegurar de que não estava grávida de seu primeiro marido. A lei deseja a felicidade da mulher que foi repudiada.” (Jésus, Juif Pratiquant, p. 266)
É dentro deste quadro social e religioso que os fariseus perguntam a Jesus se era lícito repudiar a esposa. De fato, uma “questão disputada” entre os rabinos daquele tempo. Jesus surpreende seu auditório ao recolocar a questão antes da “liberação” de Moisés: voltando ao “princípio” – isto é, ao desígnio original de Deus para o homem e a mulher -, o Rabi da Galileia aperta os parafusos: não há como separar aquilo que foi unido pelo próprio Deus. Isto é, o casamento é bem mais que um contrato civil, documento de compra e venda, um contrato de aluguel, que se possa rasgar ou anular quando conveniente.
Jesus se apoia no texto do Gênesis (2,24), sublinhando que o casamento une duas naturezas em uma só: “serão uma só carne”. Se tentarem separar marido e mulher, serão ambos rasgados, rompidos na mais profunda estrutura de seu ser. Cada um irá para seu lado levando pedaços do outro. Como na letra de Chico Buarque: “Ó metade amputada de mim!”
Uma frase de S. Paulo (1Cor 7,14a) faz pensar na profundidade e no realismo essencial dessa união, quando dá uma razão para que não se separem a mulher cristã e o marido pagão, e vice-versa: “Porque o marido que não tem a fé é santificado por sua mulher; assim como a mulher que não tem a fé é santificada pelo marido que recebeu a fé”.
Ainda duvido da indissolubilidade do matrimônio?
Orai sem cessar: “Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os construtores.” Sl 127,1)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.