Os últimos esquecidos

AUTORIA – Pe. Fernando Pascual, L.C.
TRADUÇÃO LIVRE – Ammá Maria Ângela de Melo Nicolleti
FONTE – www.es.catholic.net

Sentimos uma compaixão quase natural diante de órfãos, anciãos, enfermos, pobres, encarcerados. Mil aventuras da vida levaram muitas dessas pessoas a situações de abandono ou de necessidade. Sua dor suscita em nossos corações um desejo natural de fazer algo por eles.

Os "últimos" e deserdados da vida pedem, com sua simples existência, ajuda. Porém, há outros "últimos" que ficam de lado, sem assistência, sem carinho, porque ninguém conhece suas penas, porque são considerados pessoas felizes ou satisfeitas ou porque não querem se dar conta da "miséria" em que vivem.

Estes "últimos" podem ser poderosos que caminham de vitória em vitória no mundo do dinheiro, do espetáculo, da política. Ou egoístas que constroem ao seu redor uma barreira de autossuficiência que os fazem crer que são felizes com seus sonhos e sua aparente liberdade sem interferências. Ou pessoas fisicamente bem dotadas, com saúde, com beleza, com simpatia, que gastam seu fulgor do momento (que dura, às vezes, muitos anos enganadores) para conseguir aplausos ou prazeres. Ou curiosos que movem os fios da história humana, através de grandes planos internacionais ou de piadas de salão que arruínam familiares, amigos ou companheiros de trabalho.

Podem também ser agiotas que abusam da miséria alheia para crescer em seus negócios e dominar assim sobre centenas de ingênuos caídos nas suas garras. Ou médicos que não querem saber se existe diferença entre o bem e o mal, que decidem sobre a vida e a morte de embriões, fetos, recém-nascidos, crianças, adultos ou anciãos, com a presunção de que seus atos não serão nunca descobertos. Ou professores e pesquisadores que recebem prêmios internacionais enquanto recusam valores profundos e desprezam as vidas de outros seres humanos (pequenos, pobres, enfermos) que somente valem se se encaixam em sua ideologia ou suas experiências. Ou tantos outros tipos de pessoas que, uma vez chegados ao topo, a um lugar de prestígio, confiam em sua força para impor seus gostos, seus vícios, seus sonhos de grandeza e de domínio.

São pessoas das quais ninguém sente compaixão porque sua existência parece satisfeita e cheia de êxito. Quando, talvez, carecem de carinho, não têm paz em suas consciências, vivem rodeados de aplausos, aduladores, incapazes de sentir carinho, de dar e receber amor sincero.

São os "últimos esquecidos". Necessitam, às vezes mais do que um pobre ou um enfermo, de uma palavra de alento, um conselho sincero, um sorriso verdadeiro, um perdão que cure feridas do passado, um sinal de alerta que os desperte de sua letargia e de seus enganos. E ninguém lhos dá, porque não pedem, ou porque poucos conhecem o drama de seus corações, a amargura de seus triunfos de pirotecnia.

Jesus mesmo quis ajudá-los porque também veio para eles. Falou-lhes às vezes com dureza, como aos fariseus. Explicou-lhes que as riquezas não são capazes de nos garantir um dia a mais de vida. Apresentou-lhes, como a todos (Jesus comia com ricos e pobres, fariseus e pecadores) seu programa, sua mensagem, seu sonho para uma humanidade um pouco melhor: o respeito aos mandamentos, a renúncia aos bens passageiros, a confiança na providência, o amor até dar a vida por Seus amigos.

Suas palavras ressoam fortes e claras também para o mundo moderno. "Porém, ai de vós, os ricos, porque recebestes vosso consolo! Ai de vós, os que agora estais fartos, porque tereis fome! Ai de vós os que agora rides, porque tereis aflições e luto! Ai de vós quando todos os homens falarem bem de vós, pois desse modo seus pais trataram os falsos profetas!" (Lc 6, 24-26).

São palavras capazes de despertar um coração equivocado. Poderá assim romper com a ilusão de seus "triunfos" para descobrir um mundo novo, o das bem-aventuranças, o da simplicidade de espírito, o da justiça embelezada pela misericórdia, o de quem pede perdão e rompe com o pecado, o de quem decide viver somente para ser humilde servidor de seus irmãos.