O mistério pascal nos sacramentos da Igreja (CIC § 1117 a 1121)

II. Os sacramentos da Igreja

Graças ao Espírito Santo que a conduz à “verdade plena” (Jo 16,13), a Igreja reconheceu pouco a pouco este tesouro recebido de Jesus e precisou sua “dispensação”, tal como o fez com o cânon das Sagradas Escrituras e com a doutrina da fé, qual fiel dispensadora dos mistérios de Deus [Cf. Mt 13,52; 1 Cor 4,1] . Assim, ao longo dos séculos, a Igreja foi discernindo que entre suas celebrações litúrgicas existem sete que são, no sentido próprio da palavra, sacramentos instituídos pelo Senhor.

A graça divina emana do mistério pascal da morte e ressurreição do Senhor. Donde se deduz que qualquer celebração litúrgica é obra de Cristo, o que permite falar de uma instituição permanente dos sacramentos.

Cristo instituiu explicitamente os sacramentos do Batismo (Jo 3,5; Mt 28,18-20), da Eucaristia (Mt 26,26-28) e da Penitência (Jo 20,21-23). São sacramentos relacionados com situações fundamentais da vida humana.

Quanto aos demais sacramentos, não diretamente referidos a Cristo, pode-se dizer: os Evangelhos não relatam tudo o que Jesus disse e fez; muitos dizeres e muitos feitos ficaram na tradição oral; cf. Jo 20,30s; 21,24s.

Jesus fundou a Igreja e nela por ela fundou explicitamente os sacramentos. A Igreja é o Grande Sacramento, no qual se encontram os sacramentos menores.

E você caro ouvinte, pode então estar se perguntando: e por que então sete Sacramentos? O número sete é símbolo de totalidade. Significa que os sacramentos recorrem toda a vida do homem, desde o nascer até o morrer.

Eles distribuem-se do seguinte modo: sacramentos da iniciação cristã (Batismo, a Crisma e Eucaristia). Sacramentos medicinais (Penitência e Unção dos Enfermos). Sacramentos dos estados de vida: Ordem e Matrimônio.

CIC § 1118

Os sacramentos são “da Igreja” no duplo sentido de que existem “por meio dela” e “para ela”. São “por meio da Igreja”, pois esta é o sacramento da ação de Cristo operando em seu seio graças à missão do Espírito Santo. E são “para a Igreja”, pois são esses “sacramentos que fazem a Igreja [Sto. Agostinho, De civ. Die, 22,17; cf. Sto. Tomás de Aquino S. Th. III, 64,2 ad 3] ”; com efeito, manifestam e comunicam aos homens, sobretudo na Eucaristia, o mistério da comunhão do Deus amor, uno em três pessoas.

Aqui o Catecismo fala da sacramentalidade da Igreja. Cristo continua a agir na santificação dos homens mediante os sacramentos. A Igeja participa da sacramentalidade ou da humanidade de Cristo; ela é o âmbito através do qual Cristo exerce a sua ação e santifica os homens. Em suma, ela é mais do que uma sociedade de gente honesta. Aquilo que era visível em Cristo, passou para os sacramentos da Igreja.

Com outras palavras: a Igreja é uma comunidade sacerdotal porque participa do sacerdócio de Cristo.

A relação entre a Igreja e os sacramentos, como nos mostra a atual parágrafo do Catecismo, exprime-se de duas maneiras: os sacramentos fazem a Igreja e a Igreja faz os sacramentos.

São os sacramentos que fazem a Igreja, transmitindo a vida eterna do Pai, que se encarnou na humanidade de Jesus e se estende até nós mediante o Corpo da Igreja, na qual a água do Batismo e o Sangue da Eucaristia nos comunicam a vida de Deus.

Precisamente a Igreja é chamada "Corpo Místico de Cristo" porque é um Corpo derivado do mistério da Eucaristia e dos demais sacramentos. De modo especial, a Eucaristia faz a Igreja, pois, proporcionando comunhão com Cristo-Cabeça, propicia comunhão com os membros de Cristo, reunindo-os num só Corpo, que é a Igreja.

Os sacramentos foram por Cristo confiados à Igreja como Corpo de Cristo. É Jesus Cristo quem os ministra através da Igreja como Sumo Sacerdote.

Para refletir:

Amigo(a) ouvinte, os sacramentos, por derivarem sua força do sacrifício da cruz, tornam presente constantemente o louvor supremo de Deus, realizado por Cristo na Sua entrega redentora. O amigo ouvinte tem procurado fazer a entrega de sua vida ao Pai, unindo sua voz ao louvor da Igreja?

CIC § 1119

Formando com Cristo-Cabeça “como que uma única pessoa mística" [Pio XII, enc. Mystici Corporis], a Igreja age nos sacramentos como “comunidade sacerdotal”, “organicamente estruturada" [LG 11]. Pelo Batismo e pela Confirmação, o povo sacerdotal é capacitado a celebrar a liturgia; por outro lado, certos fiéis, “revestidos de uma ordem sagrada, são instituídos em nome de Cristo para apascentar a Igreja por meio da palavra e da graça de Deus" [LG 11].

O caráter sacramental habilita o cristão para o culto sagrado oferecido por Cristo ao Pai. Com outras palavras:... é uma participação no sacerdócio de Cristo. O Batismo e a Crisma conferem o Sacerdócio Comum dos fiéis (1 Pd 2,4-6); todos os fiéis são co-oferentes do sacerdócio do Cristo Sacerdote e são co-oferecidos com Cristo Hóstia em cada Eucaristia. O sacramento da Ordem confere o Sacerdócio Ministerial ou hierárquico nos graus do diaconato, do presbiterado e do episcopado.

É doutrina da Igreja que todos os cristãos, por serem batizados, participem do sacedócio de Cristo, constituindo "um reino sacerdotal e uma nação santa" (cf. Ex 19,6).

O Sacerdócio Comum dos fiéis não deve ser confundido com o Sacerdócio Ministerial, conferido pelo sacramento da Ordem.

Em nossos tempos, restaura-se tranquilamente no povo católico a consciência da sua dignidade sacerdotal, traço muito importante da vocação cristã, mediante o qual os fiéis leigos, como já foi dito, são participantes do culto sagrado e co-oferentes com Cristo ao Pai. Mas, o sacerdócio comum dos fiéis faz que toda a sua vida e atividade se tornem uma oblação a Deus e tenha um valor religioso; nada é "neutro" ou arreligioso na existência do cristão.

CIC § 1120

O ministério ordenado ou sacerdócio ministerial está a serviço do sacerdócio batismal. Garante que, nos sacramentos, é Cristo que age pelo Espírito Santo para a Igreja. A missão de salvação confiada pelo Pai a seu Filho encarnado é confiada aos apóstolos e, por meio deles, a seus sucessores: recebem o Espírito de Jesus para agir em seu nome e em sua pessoa [Cf. Jo 20, 21-23; Lc 24,47; Mt 28,18-20] . Assim, o ministro ordenado é o elo sacramental que liga a ação litúrgica àquilo que disseram e fizeram os apóstolos, e, por meio destes, ao que disse e fez Cristo, fonte e fundamento dos sacramentos.

Todo sacramento age ex opere operato (por efeito da própria obra) é a fórmula que significa que o sacramento é canal da graça por efeito do próprio rito, e não por efeito das virtdes do ministro humano que aplica o rito. Porque Cristo é sempre o Ministro principal, que garante a autenticidade do rito desde que se utilizem a matéria e a forma. Nos sacramentos é Jesus Cristo que opera; os homens que administram os sacramentos são instrumentos seus. Nos sacramentos, Jesus Cristo nos comunica a graça que nos mereceu na cruz. Cristo age nos sacramentos até mesmo através de homens indignos. Nem a santidade nem o pecado do ministro humano afetam a validade dos sacramentos. Da parte do ministro humano, o que se requer é que seja validamente ordenado, aplique a matéria e a forma devdas e tenha a intenção de fazer o que Cristo faz, mediante a Igreja, ao ministrar os sacramentos.

Está claro que isto não quer dizer que o ministro humano possa ser um frio despachante ou funcionário da Igreja; ao contrário, requer-se que tenha em si os sentimentos de Cristo Jesus (Fl 2,5); todavia este aspecto subjetivo do ministro não é decisivo para a validade dos sacramentos.

CIC § 1121

Os sacramentos do Batismo, da Confirmação e da Ordem conferem, além da graça, um caráter sacramental ou “selo” pelo qual o cristão participa do sacerdócio de Cristo e faz parte da Igreja segundo estados e funções diversas. Esta configuração com Cristo e com a Igreja, realizada pelo Espírito, é indelével [Conc. De Trento: DS 1609] , permanece para sempre no cristão como disposição positiva para a graça, como promessa e garantia da proteção divina e como vocação ao culto divino e ao serviço da Igreja. Por isso estes sacramentos nunca podem ser reiterados.

Os sacramentos que tratam esse parágrafo imprimem na alma um marco indelével chamado caráter. No Batismo, recebemos o caráter de discípulos de Cristo; na confirmação, o de soldados de Cristo; na ordem, recebemos o caráter de sacerdote de Cristo. Por isto, estes três sacramentos só podem ser recebidos uma vez na mesma pessoa.

Selar ou marcar com um selo quer dizer tomar posse, assumir em pertença. O cristão selado é marcado pelo Espírito Santo com o selo, a marca ou a efígie de Cristo. Isto se dá à semelhança do que ocorria no Antigo Testamento, quando a pertença ao povo leito era assinalada pela circuncisão; cf. Rm 4,11.

O costume de marcar com um sinete o escravo e o soldado; quando estes fugiam ou desertavam, perdiam a fideldade e o afeto ao seu senhor, mas guardavam o sinete,a marca ou o selo do senhor respectivo; assim o cristão, dizia o mestre, quando se afasta de Cristo, perde a fidelidade ao Senhor ou a graça santificante, mas guarda o selo ou o caráter que Cristo lhe imprimiu no Batismo e que implica a pertença a Cristo e ao rebanho do Bom Pastor. Assim se afirma e esclarece a doutrina do caráter sacramental. Este é um efeito produzido pelos três sacramentos consecratórios, o Batismo, a Crisma e da Ordem; é efeito indelével que permanece na alma do cristão,mesmo quando este cai em pecado grave e perde a graça santificante.

Em suma, o cristão, mediante o caráter, é uma pessoa consagrada a Deus ou santa no sentido ontológico da palavra, devendo tornar-se santa no sentido ético ou moral deste vocábulo.

Para refletir:

Amigo(a) ouvinte, como acabamos de ver, a Igreja administra os sete sacramentos para que tenhamos a vida e a tenhamos em abundância. Batiza-nos, para que fiquemos livres dos nossos pecados e nos tornemos filhos de Deus. Ela nos crisma, para que sejamos fortalecidos pelo Espírito Santo. Na sagrada Eucaristia, alimenta-nos com o pão da vida. No sacramento da Penitência, absolve-nos dos nossos pecados. Aos doentes dá a Unção dos Enfermos, para fortalecê-los no corpo e na alma. Por meio do sacramento da Ordem, confere o poder sacerdotal e as graças necessárias para a vida e o ministério sacerdotal. No sacramento do Matrimônio, une os esposos com o vinculo sagrado para toda a vida. Quem recebe dignamente os sacramentos, recebe a vida eterna das fontes do Salvador. E quanto maior for o amor, tanto mais abundante será a graça.

Diácono Antonio Carlos
Comunidade Católica Nova Aliança