“A liturgia não esgota toda a ação da Igreja [SC 9] ”: ela tem de ser precedida pela evangelização, pela fé e pela conversão; pode então produzir seus frutos na vida dos fiéis: a vida nova segundo o Espírito, o compromisso com a missão da Igreja e o serviço de sua unidade.
O parágrafo proposto quando afirma que: "A sagrada Liturgia não esgota toda a ação da Igreja", chama nossa atenção para não transformar a comunidade num "pam-liturgismo" (tudo é liturgia). Por mais importante que seja a Liturgia, não se pode pensar que a Liturgia é a única atividade da Igreja. É a mais importante, como diz a SC 7, mas não a única. Existem outras atividades na Igreja que precisam ser consideradas.
Por isso, antes que os homens possam achegar-se da Liturgia, faz-se urgente que sejam chamados à fé e à conversão. São Paulo afirma aos romanos: "como invocarão Aquele em quem não creram? E como crerão sem terem ouvido falar dEle? E como ouvirão se ninguém lhes pregar? E como pregará se ninguém for enviado?" (Rm 10,14-15).
Por isso, a Igreja anuncia aos não-crentes a mensagem da salvação, para que todos os homens conheçam o único Deus verdadeiro e Aquele que enviou, Jesus Cristo, e se convertam de seus caminhos, fazendo penitência. Aos que crêem, porém, sempre deve pregar-lhes a fé e a penitência; deve, além disso, dispô-los aos sacramentos, ensinar-lhes a observar tudo o que Cristo mandou e estimulá-los para toda a obra de caridade, piedade e apostolado. Por estas obras os fiéis cristãos manifestem que não são deste mundo, mas sim a luz do mundo e os glorificadores do Pai diante dos homens.
O texto em questão fundamenta-se em duas prerrogativas: o kerigma que é anúncio e a catequese.
No início da Igreja, ninguém que não fosse batizado poderia participar das celebrações, principalmente da Eucaristia. Aqueles que estavam se preparando para receber o batismo, os catecúmenos, podiam participar da missa até a oração dos fiéis, depois eram despedidos. Não havia a prática que temos hoje, que qualquer pessoa pode na igreja entrar e participar da missa.
Por isso, o texto insiste na importância do anúncio e da evangelização, para que os participantes, uma vez convertidos, possam celebrar conscientemente a Liturgia e não a vejam como um teatro ou uma cerimônia social.
Demonstra-se assim que a assembléia litúrgica não é uma assembléia qualquer, mas a assembléia daqueles que aceitaram o Evangelho e aderiram a fé e, por isso, podem celebrar os Mistérios da Salvação na Liturgia.
Para refletir:
É grande a importância da liturgia de nossas celebrações. Por isso, prezado(a) ouvinte, compreenda a imensa e grave importância de termos cultos corretamente celebrados. É dever de todo bom católico sempre lamentar a liturgia desobedecida e se esforçar ao máximo por ter os cultos celebrados com dignidade, beleza e de acordo como manda a Igreja. Porque é assim que aprouve a Deus dispensar suas graças e ensinar seus mistérios.
A desobediência às normas litúrgicas, por menor que seja, constitui um atentado de certa gravidade. As rubricas (normas), embora emanadas da autoridade meramente humana da Igreja, encontram sua razão mais profunda na história da salvação, na entrega do sacrifício de Cristo na Cruz. Defender a Missa “do Missal”, o uso dos paramentos corretos, a escolha de tal ou qual formulário, o impedimento de certos gestos e ritos, não é rubricismo. Trata-se da expressão de algo central em nossa fé: Jesus Cristo, Nosso Rei e Redentor, continua, no céu, como Sumo Sacerdote, intercedendo por sua Igreja, e de lá age na liturgia dessa mesma Igreja.
Quando um sacerdote escolhe, por sua própria vontade, inserir textos não previstos na Missa, ou, a seu bel prazer, altera as fórmulas, deixa de usar a casula, modifica a liturgia, ou, por exemplo, não insere a sua celebração na tradição litúrgica do rito romano, ele está, mais do que desrespeitando uma norma positiva da Igreja, o que já seria grave, maculando a ação salvífica de Cristo. “Fabricar” a própria liturgia, e ter, em cada paróquia, como que um rito distinto daquele aprovado pela competente autoridade, Roma, além de usurpar um papel que não é seu, expressar uma forma de narcisismo, e ignorar mais de dois mil anos de símbolos, sinais e orgânico desenvolvimento da liturgia católica, faz quem o preside desonrar a obra de Nosso Senhor no Calvário. Desculpe prezado(a) ouvinte, pelas palavras, mas são palavras que devem manifestar a nossa preocupação pelo que existe da mais sublime realidade quando temos em conta que, além das leis humanas, a liturgia brota do Sangue na Cruz derramado, e é dela (e d’Ele) que vive a Igreja!
Diácono Antonio Carlos
Comunidade Católica Nova Aliança